Portugueses saem tarde de casa dos pais, mas a culpa não é da falta de vontade

Estudo diagnosticou o que leva os jovens portugueses a serem dos europeus que mais tarde saem do ‘ninho’.

 

Os jovens portugueses saem, de facto, mais tarde da casa dos pais, mas a culpa não é da falta de vontade, existindo uma forte correlação com o nível de rendimento, nomeadamente com os salários dos mais novos.

A conclusão é de um estudo sobre « Igualdade de género ao longo da vida: Portugal no contexto europeu », feito por investigadores do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) e publicado há dias pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O documento de mais de 300 páginas tem uma parte específica onde se analisa a saída da casa dos pais, área onde se sabe há anos que os portugueses são dos que saem mais tarde.

O trabalho conclui, em primeiro lugar, que elas saem em geral de casa da família mais cedo que eles. É assim em todos os países europeus e também em Portugal onde a idade média de saída de casa dos pais chega aos 29,7 anos neles e aos 28,2 anos nelas, ou seja, ano e meio mais cedo nas mulheres.

No entanto, o estudo também destaca que os portugueses, homens e mulheres, vão viver sozinhos bem mais tarde que a média europeia e muito mais tarde do que acontece nos países do Norte da Europa. Por exemplo, na Suécia essa autonomização acontece quase uma década antes.

Os investigadores salientam, citando vários outros estudos feitos sobre o assunto, que o fenómeno português é semelhante a outros países da Europa do Sul, como Portugal, e não é alheio à precariedade que os jovens dessas regiões enfrentam nos mercados de trabalho nacionais, com baixos salários, ao contrário do que acontece no Norte da Europa, em percursos pessoais classificados como « ziguezagueantes » com grande instabilidade laboral e risco acrescido de desemprego, num « impasse vivido por muitos jovens em relação ao futuro ».

O estudo destaca que os dados mostram que « muitas das mulheres e homens jovens que estão na casa dos pais podem já não ser dependentes economicamente destes, e estarem a trabalhar, sem terem ganhos suficientes para adquirirem autonomia residencial ».

Sem segurança no emprego ou salários razoáveis, mantém-se uma « relativa dependência financeira » da família, adiando um marco na « transição para a idade adulta » a que se segue, por norma, a vida em comum com um parceiro ou a decisão de ter filhos (que se sabe que em Portugal também é cada vez mais tardia).

O estudo destaca que a saída precoce da casa da família nos países nórdicos deve-se, pelo menos em parte, ao Estado social mais forte e com políticas que promovem a articulação entre escola e autonomização do jovem desde cedo, como bolsas e empréstimos a longo prazo (caso da Noruega).

O mercado de trabalho na Europa do Norte também é menos « hostil » e menos precário que em Portugal onde ficar na casa dos pais é uma « importante fonte de apoio » financeiro pois os apoios sociais em Portugal são bem mais fracos.

« De facto », sublinha o estudo, « quanto mais baixo for o rendimento do trabalho (os salários) dos jovens [e quanto menor for o desemprego], mais tarde saem da casa dos pais », algo visível pelos investigadores quando cruzam os números dos vários países europeus, num « fosso » que separa a Europa do Norte (mais cedo) da Europa Central e do Sul (mais tarde).

Alfa/TSF

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