Marcelo pede, em Andorra, aos portugueses no estrangeiro que votem nas eleições nacionais. Portugueses representam 14% da população do principado.
O Presidente da República pediu ontem aos portugueses no estrangeiro que votem nas eleições nacionais, num discurso perante representantes da comunidade em Andorra em que frisou que politicamente não será candidato a mais nada.
Marcelo Rebelo de Sousa, empossado em 09 de março para um segundo e último mandato como Presidente da República, falava no primeiro ponto do seu programa oficial de dois dias em Andorra, antes de participar na XXVII Cimeira Ibero-Americana juntamente com o primeiro-ministro, António Costa, e com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que, por causa da pandemia de covid-19, tem optado por adiar todas as deslocações ao estrangeiro, mas que no caso de Andorra, tanto ele, como o primeiro-ministro, não podiam seguir esse critério e tinham de marcar presença.
« Tínhamos de estar com a nossa gente », disse, num discurso com muitos elogios ao papel que tem sido desempenhado pela comunidade portuguesa em Andorra.
Uma comunidade que é a segunda maior estrangeira do principado – composta por cerca de 10.500 pessoas – logo após a espanhola, e que representa aproximadamente 14% da população total do principado. Os portugueses em Andorra são maioritariamente originários do norte de Portugal e dedicam-se principalmente ao comércio, à construção civil e à hotelaria.
Tal como antes já tinha feito António Costa nesta mesma sessão, o chefe de Estado salientou que os portugueses residentes fora do seu país têm agora mais direitos políticos de participação na vida nacional.
« Estamos a trabalhar no domínio consular, agora pela via digital. E estamos a estreitar as relações em termos de participação eleitoral. Agora que sou insuspeito, porque já não sou candidato a nada, a mais nenhuma eleição, estou muito à-vontade para vos apelar a que votem mesmo », declarou.
O Presidente da República apontou que, no plano político, este aumento dos direitos de participação dos portugueses no estrangeiro « foi uma longa luta pelo direito de voto ».
« Vamos ver como se estuda isso para ser mais fácil votar, mas aqui, em Andorra, não é muito difícil, porque não há grandes distâncias a fazer para ir votar. Aqui, é mesmo ao lado de casa. Aproveitem essa oportunidade », insistiu o chefe de Estado.
No seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa recordou a visita oficial que realizou a este país em 2017, considerando que foi o momento alto » de um périplo que incluiu o Egito e a Grécia.
« Antes de começar o programa oficial em Andorra, tive de ir a um centro comercial comprar sapatos. Com a ajuda da comunidade portuguesa, comprei uns sapatos luso-andorranos », contou, numa das várias notas pessoais que transmitiu e em que também lembrou uma visita que fez ao principado na década de 60.
« Andorra era praticamente uma grande rua de comércio nos anos 60. Os portugueses estavam a chegar naquela viragem para os anos 70. Foi uma anunciação do que seria a nossa presença aqui na construção civil, na hotelaria, na restauração e nos serviços mais diversos », apontou.
Para o Presidente das República, os portugueses em Andorra « são insubstituíveis », fazendo, em seguida, uma alusão às consequências negativas da covid-19 e ao « último ano « muito difícil » em todo o mundo.
« Esta é a primeira deslocação que fazemos juntos, primeiro-ministro e Presidente das República. Tenho adiado sistematicamente todas as deslocações ao estrangeiro e, portanto, não é um acaso a coincidência que a cimeira [Ibero-Americana] permitiu com a nossa presença aqui », assinalou.
Marcelo Rebelo de Sousa disse que ele e António Costa até podiam « ter ficado pelo digital » para participarem na Cimeira Ibero-Americana, « até porque dos 22 países do espaço Ibero-Americano, só aqui estão presentes Espanha, Portugal, Guatemala e República Dominicana ».
« No nosso caso, não houve hesitação. O senhor primeiro-ministro disse-me logo: A Andorra temos de ir, é evidente, porque temos lá muita gente nossa. Obviamente, não pude deixar de sentir exatamente o mesmo. Começámos este programa por onde devíamos começar: Pela nossa gente », disse, numa nova alusão aos portugueses que vivem em Andorra.
O Presidente da República deixou ainda um apelo aos portugueses que residem no estrangeiro, pedindo-lhe que visitem o país logo que as condições de mobilidade o permitirem, « ou no próximo Verão, ou no próximo Natal ».
« Se tudo correr como esperamos em Portugal, contamos convosco », declarou.
Neste encontro, estiveram em representação da comunidade portuguesa, além do conselheiro das José Manuel Gonçalves, oito membros de associações e grupos lusos, 12 empresários e profissionais liberais, quatro dos setores do ensino, cultura e comunicação Social, quatro lusodescendentes eleitos nas câmaras locais, e três do consulado honorário de Portugal em Andorra.