Presidente foi ao bairro Jamaica e Embaixador de Angola ligou para Belém a agradecer a Marcelo. Jornal de Angola pôs na capa foto do Presidente português no bairro. Marcelo, que já tinha ido almoçar com o PR de Cabo Verde e que visita Angola daqui a um mês, tenta serenar os ânimos. Portugal « não precisa de um conflito de raças ».
Duramente criticada por dirigentes sindicais da polícia que não gostaram de ver Marcelo Rebelo de Sousa a confraternizar com moradores do Jamaica, a visita do Presidente da República ao problemático bairro do Seixal foi um sucesso diplomático junto das autoridades de Angola e de Cabo Verde.
O Jornal de Angola puxou para a primeira página da sua edição desta quarta-feira uma foto do Presidente português abraçado a uma residente no bairro, com o título ‘PR Marcelo visitou o Jamaica’. E o embaixador de Angola em Lisboa, apurou o Expresso, telefonou na terça-feira para o Palácio de Belém a agradecer o gesto de Marcelo junto dos moradores do bairro, onde habitam cabo-verdianos mas sobretudo angolanos.
Após os confrontos do passado dia 19 entre residentes e agentes da PSP que terminaram com cinco detidos e um polícia ferido, as autoridades de Angola e de Cabo Verde foram rápidas a reagir. Com as redes sociais em Angola a incitarem a ações de retaliação contra cidadãos portugueses que residem no país, o Ministério do Interior angolano emitiu um comunicado onde afirmava estar a « acompanhar com alguma preocupação » os acontecimentos e apelava à calma. Enquanto, em Lisboa, o embaixador tentava apurar responsabilidades.
O Presidente da República de Cabo Verde escrevia, pelo seu lado, na sua página no Facebook que estava a « procurar informações concretas » sobre os incidentes. E foi neste contexto que Marcelo Rebelo de Sousa, atento ao clima de crispação social, tratou de tentar evitar a crispação diplomática.
A caminho do Panamá, onde foi ao encerramento das Jornadas Mundiais da Juventude, Marcelo fez escala em Cabo Verde para ir almoçar com o Presidente Jorge Carlos Fonseca. Objetivo: « acalmar os ânimos », como explicou ao Expresso. No final, uma declaração conjunta dos dois PR punha a tónica no apuramento « do que se passou » mas, sobretudo, na necessidade de « não empolar, generalizando aquilo que são casos específicos ».
« Estivemos de acordo quanto à necessidade de haver serenidade para que a radicalização no tratamento da matéria não gere radicalização », afirmou o Presidente português aos jornalistas. Enquanto preparava a visita ao Jamaica.
Segunda-feira de manhã, à margem da sua agenda oficial e sem pré-aviso à comunicação social, Marcelo Rebelo de Sousa visitou o bairro do Seixal. E as fotos de amena confraternização com moradores, incluindo com Hortêncio Coxi que fontes da PSP garantiram ao Expresso já ter sido detido várias vezes por tráfico de heroína, tentativa de roubo e participação num motim contra a polícia em 2009, enfureceram dirigentes sindicais da polícia.
O Presidente foi acusado de « discriminação » por ter ido ao encontro dos moradores do Jamaica enquanto nunca recebeu os sindicatos da polícia e Marcelo veio responder. Aproveitando uma audiência que tinha no palácio de Belém, abriu as portas aos jornalistas e falou do tema sobre o qual todos o queriam ouvir.
Sem responder diretamente aos dirigentes policiais, o Presidente rejeitou a ideia de « um bairro negro contra uma polícia branca ou uma polícia branca contra um bairro negro. Nada disso ». « Colocados os dois no mesmo plano », Marcelo avisou « que a última coisa de que Portugal precisa é de qualquer tipo de comportamento que crie um empolamento artificial na sociedade e um conflito de raças ».
Quanto à selfie com Hortêncio Coxi, o Presidente diz que quando se aproxima dos portugueses não lhes pergunta pelo cadastro: « Quando ando na rua, não peço cadastro fiscal, moral ou criminal aos portugueses. É com todos », afirmou.