Covid-19. Preço do barril de petróleo WTI cai pela primeira vez para valores abaixo de zero. Galp suspende atividade em Sines – Lusa
O dramatismo da queda é ilustrado pelos valores: a cotação do barril de referência dos EUA, o West Texas Intermediate (WTI), para entrega em maio, estava em 35,20 dólares negativos, às 14:30 (19:30 de Lisboa). Esta diferença é quase de 60 dólares em relação ao início do ano, antes de o confinamento das populações ter abalado o mundo e paralisado fábricas, escritórios e veículos automóveis.
Muita da queda hoje verificada é atribuível a razões técnicas – o período de negociação dos contratos para entrega de petróleo em maio está perto do seu fim, o que reduz o seu volume e pode exacerbar a variação da cotação.
Mas os preços para entregas para meses posteriores, que tiveram maiores volumes negociados, também caíram. Por um lado, a procura de petróleo colapsou e, por outro, as instalações de armazenagem do petróleo estão quase cheias.
Os depósitos podem atingir os seus limites dentro de três semanas, segundo Chris Midgley, analista-chefe da S&P Global Platts.
E os envolvidos nas transações (traders) estão dispostos a pagar a alguém que fique com este petróleo para entrega em maio e transferir este peso de procurar solução para o que fazer com ele.
Já o preço do barril WTI para entrega em junho, que apresenta um preço mais ‘normal’, caiu 16,5%, para 20,90 dólares por barril.
Os grandes produtores de petróleo têm anunciado cortes na produção, com a esperança de equilibrar melhor a oferta com a procura, mas muitos analistas dizem que não é suficiente.
“Basicamente, os ursos estão à procura de sangue”, comentou o analista Naeem Aslam, da Avatrade, num relatório.
“A acentuada queda no preço deve-se à falta de procura suficiente e à falta de capacidade de armazenagem, uma vez que os cortes na produção não conseguiram resolver o excesso da oferta”, especificou.
A Halliburton evoluiu na bolsa entre acentuados ganhos e perdas, mesmo depois de ter apresentado resultados no primeiro trimestre acima do esperado pelos analistas.
Os dirigentes deste grupo de engenharia petrolífera consideraram que a pandemia criou tanta perturbação que “não se pode estimar com razoabilidade” quanto tempo vai durar.
Para o conjunto do ano 2020, e em especial com referência aos EUA, a Halliburton espera uma descida em receitas e rentabilidade.
Galp suspende atividade na refinaria de Sines a partir de 04 de maio
“Será necessário estender as medidas de ajustamento no funcionamento da refinaria de Sines [distrito de Setúbal], suspendendo temporariamente a operação da generalidade dessas instalações a partir de 04 de maio de 2020, por um período expectável de um mês”, confirmou hoje à agência Lusa fonte oficial da empresa.
A Galp justifica a decisão com a “evolução da conjuntura nacional e internacional decorrente da prorrogação do estado de emergência”, decretado por causa da pandemia da doença provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), que impôs “medidas extremas de contenção, quarentenas cada vez mais restritivas e a paralisação da maioria das atividades económicas”.
Estas medidas criaram “restrições operacionais severas”, que levaram a “interrupções na cadeia de abastecimento, em particular por não ser possível escoar os produtos produzidos”, adianta.
A empresa recorda que este “ajustamento planeado” também já levou à suspensão da atividade na refinaria de Matosinhos, distrito do Porto.
A notícia de que a maior refinaria do país iria suspender o funcionamento foi avançada hoje pelo Observador.
A Galp garante ainda que esta paragem “não terá impacto nas pessoas afetas à refinaria da Galp” e que está “assegurado o abastecimento das necessidades de mercado”.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 167 mil mortos e infetou mais de 2,4 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Mais de 537 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 735 pessoas das 20.863 registadas como infetadas, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
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