
« Estou na corrida? Obviamente! » afirmou François Ruffin em comício em Montreuil, esta terça-feira, no lançamento do seu movimento político « Notre France ». Com este discurso, oficializa a sua participação na corrida ao Eliseu para 2027, sem, no entanto, anunciar formalmente a sua candidatura.
Isolado à esquerda desde a sua rutura com a França Insubmissa (LFI) nas últimas legislativas, Ruffin regressa ao centro da cena política, apresentando-se novamente perante o público com um comício em Montreuil (Seine-Saint-Denis), na sala La Marbrerie. Embora continue sozinho, a sua intenção é tentar reunir a esquerda.

No final de uma hora e meia de discurso, declarou querer « reacender essa luz » e « transformar a cólera em esperança », antes de reafirmar a sua determinação em participar na disputa presidencial de 2027. « Vamos para a campanha, retomemos o caminho do terreno », declarou com entusiasmo.
Em Montreuil, a fila para entrar na sala La Marbrerie estendia-se quase até à estação de metro « Mairie de Montreuil ». Um público jovem e maioritariamente masculino acorreu em massa para assistir ao comício do deputado da Somme. Políticos de diferentes correntes da esquerda – comunistas, ecologistas e socialistas – estavam sentados nas primeiras filas. Alexis Corbière, deputado local e ex-membro da França Insubmissa (LFI), tomou a palavra apelando à « Unidade! Unidade! Unidade! », um grito de guerra contra as divisões internas da esquerda. O evento reuniu algumas centenas de pessoas, mas sem grandes figuras políticas de destaque.

Após uma hora e meia de discursos e animação musical, François Ruffin subiu ao palco. O púlpito exibia o nome do seu novo movimento, « Notre France ». O deputado iniciou um discurso centrado na crítica a Marine Le Pen, recentemente condenada a cinco anos de ineligibilidade, e às elites políticas e económicas. Acusou os dirigentes franceses de terem « amarrado a soberania nacional » a instituições como a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu. Num tom mais social, defendeu também as mães muçulmanas que usam véu e participam nas saídas escolares, declarando: « A República deve agradecer-lhes e aplaudi-las ».
Perante um contexto de « grande resignação » face à ascensão do populismo de extrema-direita, Ruffin quer remobilizar a esquerda, e este comício foi um primeiro passo nessa direção. Entre os temas centrais do seu discurso, destaca-se então a « soberania » e a reindustrialização. « Podemos falar sobre isso, são pontos de partida para reconstruirmos », afirmou. Mas para avançar, « temos de reconstruir uma força » capaz de « mobilizar o povo ».
François Ruffin não hesita em falar sobre « identidade nacional » para demonstrar que « mantém firmes os valores ». No entanto, acredita que « perante a direita identitária, a luta deve ser travada no nosso terreno: o social e a economia ». Mas não em torno da França Insubmissa (LFI).

O grande tema do final do discurso foi a necessidade de união da esquerda para vencer em 2027. « Hoje falta-nos uma força », disse Ruffin. « As presidenciais não são um truque de magia, não são Gérard Majax, não são David Copperfield », afirmou, referindo-se às declarações do líder da LFI, Jean-Luc Mélenchon, que aposta na « magia » do segundo turno. Sobre o seu próprio papel em 2027, Ruffin foi mais claro do que nunca. « Quando chegar o momento, não me esconderei atrás do meu dedo mindinho com um ‘vamos ver’. Estou na corrida? Obviamente », proclamou, rompendo com as ambiguidades anteriores. Propôs ainda « estados gerais » no verão e a construção de uma « equipa de França » no regresso ao trabalho político depois do verão.
A campanha de 2027 está apenas a começar, e François Ruffin quer visívelmente estar na linha da frente.
Didier Caramalho