
Rosalía Vila Tobella nasceu a 25 de setembro de 1992, na Catalunha, num hospital perto de Sant Cugat del Vallès, e cresceu em Sant Esteve Sesrovires, uma vila nos arredores de Barcelona.
Apesar de vir a tornar-se uma figura global da música, não nasceu numa família ligada ao meio artístico: a mãe trabalhava numa empresa de ferragens para janelas e o pai tinha raízes dispersas por várias regiões de Espanha, com um avô nascido em Cuba. Rosalía tem uma irmã mais velha, Pilar, que mais tarde passaria a colaborar consigo como diretora criativa.
Desde pequena parecia carregar uma faísca especial. Conta-se que, aos oito anos, num jantar de família, cantou e, ao abrir os olhos, encontrou todos emocionados. Foi aí que percebeu que a música podia ser algo sério. Na adolescência descobriu o flamenco, sobretudo ao ouvir Camarón de la Isla, e apaixonou-se pela sua intensidade visceral. Decidiu, então, dedicar-se ao género: estudou num conservatório, frequentou seis anos no Taller de Músics e, mais tarde, ingressou na Escola Superior de Música de Catalunya. Durante esse período, cantava em casamentos e bares por pequenas quantias, acumulando experiência enquanto moldava o seu estilo.
Mesmo estudando com rigor e aprendendo com mestres, Rosalía nunca se deixou prender pelas regras. Desde cedo mostrou instinto para misturar o tradicional com o moderno, criando algo novo e inesperado. Assim, passou a ganhar espaço no circuito flamenco e underground, colaborando com músicos e participando em projetos menores, até começar a compor e a definir a sua própria linguagem sonora.
A ascensão chegou com El Mal Querer, o álbum que uniu palmas, guitarras e batidas eletrónicas com naturalidade inédita. De repente, não era apenas mais uma cantora: tornava-se um fenómeno, reconhecida pela voz límpida, pela estética arrojada e pela capacidade de transformar géneros. Com o tempo, explorou o urbano latino, fez êxitos globais e colaborou com artistas de várias partes do mundo, sempre movida pela vontade de se reinventar.
Agora, com Lux, Rosalía entra numa fase mais madura e cinematográfica, feita de orquestras, coros e um ambiente quase espiritual. É nesse registo que surge “Memória”, o dueto com Carminho, onde canta em português pela primeira vez. A canção carrega a melancolia doce do fado, mas também o toque épico que lhe é característico. A colaboração é simbólica: revela o respeito profundo de Rosalía pela tradição — seja a sua, seja a nossa — e a sua capacidade de se aproximar de outras culturas com humildade, curiosidade e alma.
Hoje, Rosalía é isso: uma artista inquieta, que partiu de uma pequena vila catalã para o mundo, que honra as raízes mas não tem medo de arriscar. Continua a surpreender e a conquistar quem vê na música um espaço de coração, coragem e imaginação.
Rádio Alfa