França – eleições regionais e departamentais
Direita confirma vitória nas regionais. Eleições presidenciais relançadas
Adaptação de um artigo do Expresso. Por Daniel Ribeiro
Depois das eleições regionais e departamentais, sob o regime do sistema eleitoral maioritário a duas voltas (no domingo passado e, hoje, 27), a França entrou de imediato, esta noite, no debate sobre as presidenciais de abril de 2022, que vão ser mais complicadas (envolvendo mais candidatos credíveis, além do Presidente Emmanuel Macron e da líder nacionalista, Marine le Pen) do que se previa.
O sistema eleitoral francês é incompreensível para, por exemplo, um eleitor português médio porque, como sempre nestas eleições, permitiu fusões de listas para a segunda volta, com duelos, mas também possibilitou diversas disputas triangulares, quadrangulares ou mesmo “pentagonais”, com três, quatro ou cinco candidatos a disputarem a vitória final dos departamentos e nas regiões.
Trata-se de uma especialidade francesa e, talvez por isso, porque os franceses não compreendem também muito bem este sistema eleitoral tão estranho nem as competências por vezes muito confusas e sobrepostas dos departamentos e das regiões, a abstenção desta segunda volta foi praticamente idêntica à da primeira volta de domingo passado – cerca de 65 por cento, segundo as primeiras projeções.
No que respeita aos resultados finais de hoje, o grande vencedor de hoje parece ser Xavier Bertrand, ex-ministro da direita, que confirmou a sua vitória de domingo passado, na região Hauts-de-France (norte) e que o coloca de imediato como um provável e forte candidato da direita (do partido “Os Republicanos”, LR) às presidenciais de abril de 2022, baralhando o jogo de Emmanuel Macron e de Marine le Pen, que sonhavam com a repetição do seu duelo de 2017 na corrida para o Eliseu.
O presidente Macron foi claramente derrotado, com o seu movimento “A Republica em Marcha” (LREM), logo na primeira volta e Marine le Pen confirmou os maus resultados de domingo passado com a descalabro do candidato do seu partido, “Ajuntamento Nacional” (RN) na única região onde ela poderia aspirar à vitória – no sueste, em Provence-Alpes-Côtes d’Azur.
Xavier Bertrand foi o primeiro a discursar logo a seguir (minutos depois) à divulgação das primeiras estimativas, o que significa sem dúvida que quer ser candidato pela direita às presidenciais.
Com Marine le Pen claramente derrotada, porque o RN não conquistou uma única região, Emmanuel Macron e o LREM também sofreram um forte desaire porque, praticamente, não existiram e não contaram para a segunda volta deste escrutínio.
Na direita, além de Xavier Bertrand, outros nomes podem surgir para as presidenciais, como o de Valérie Pécresse, vencedora numa “quadrangular” (contra candidatos da “união da esquerda e ecologista”, do RN e do LREM) na região de Paris.
Na sexta-feira, em declarações ao Expresso (e também à Rádio Alfa), a atual presidente da região mais vasta e mais rica de França disse ao Expresso que ainda não tinha chegado o momento de discutir as candidaturas às presidenciais.
Para as presidenciais, na esquerda, que ainda tenta recuperar das mazelas sofridas depois do mandato do antigo Presidente François Hollande, sonha-se com a união de socialistas, ecologistas, comunistas e dos “bloquistas” da França Insubmissa, dirigidos pelo “esquerdista” Jean-Luc Mélenchon.
Ao Expresso e, un dias antes à Rádio Alfa, Anne Higalgo, socialista e presidente da Câmara de Paris, disse querer concretizar esta “união da esquerda”. Ela própria poderá ser candidata às presidenciais, mas Mélenchon também quer de novo entrar na corrida ao Eliseu e na esquerda estas eleições não permitiram esclarecer as relações de forças no setor.