SAIA DE CENA SENHOR VENTURA – Opinião. Paulo Pisco

SAIA DE CENA SENHOR VENTURA – Opinião, deputado PS Paulo Pisco.

A participação de André Ventura na campanha eleitoral é um espetáculo indecente e insultuoso. A democracia e os democratas não podem pactuar com a violência permanente contra as pessoas, contra as minorias, contra classes sociais, contra o Estado e as suas instituições, contra a Constituição
da República. Sim, André Ventura é um perigo para a democracia e para a coesão da nossa sociedade.

O candidato do Chega, que professa a mesma ideologia extremista que outros partidos congéneres na Europa, viola permanentemente de maneira grosseira a Constituição da República, mente e manipula com a maior das canduras, ignora os contextos para fazer acusações que são uma distorção da realidade, e certamente que iniciaria as “limpezas” de que tanto gosta de falar em partidos políticos, sindicatos e outras organizações, fazendo eco das práticas das ditaduras.

Também afirma que nunca seria o Presidente de todos os portugueses, sobretudo de alguns menos afortunados com a vida, pertencentes a determinadas classes sociais, ou de certas origens étnicas ou religiosas, embora não se saiba que tipo de “limpezas” lhes estariam destinadas se
por acaso viesse a ocupar algum cargo que lhe desse esse poder.

É totalmente inaceitável que no debate com Marcelo Rebelo de Sousa tenha mais uma vez violado a Constituição ao usar de forma abusiva uma foto de um grupo de sete pessoas do Bairro da Jamaica, sem nenhum respeito pelos homens, mulheres e até uma criança que estavam com o Presidente, que as visitou na sequência de acontecimentos de violência policial.

As imagens que então ficaram conhecidas eram bem evidentes sobre o abuso da violência que alguns polícias exerceram sobre um grupo de pessoas indefesas, incluindo uma mãe que queria proteger o filho. Foi essa circunstância que levou o Presidente a visitar o bairro e a encontrar-se com essas pessoas originárias de países africanos de expressão portuguesa.

O candidato do Chega, travestido de justiceiro e mestre na arte da manipulação, está claramente apostado em despertar os sentimentos mais básicos de algumas pessoas que se identificam com o racismo, xenofobia e a violência que exala, não hesitando em desconsiderar outros seres humanos menos afortunados socialmente, e por isso exibiu aquela foto de forma insultuosa para quem é deputado e candidato ao mais alto cargo da nação.

Ao mostrar a fotografia disse com toda a impunidade que se tratava de uma foto com “a bandidagem”. Dizer isto de pessoas que não se conhece, tenham ou não cadastro, e que certamente não será o caso da criança, é uma vergonha para quem quer ser Presidente da República e tem um
cargo eletivo no Parlamento. É inaceitável que o candidato André Ventura faça uma demonstração tão abusivamente xenófoba e racista através da televisão, que inclui nesses comentários infelizes uma criança, violando de forma grosseira a Constituição da República em muitos dos seus artigos.

Basta citar o art. 26º para ilustrar a falta de condições para o candidato da extrema-direita continuar a sua campanha, porque jamais poderia respeitar a Constituição. Diz o referido artigo no ponto 1 que “A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento, à personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade privada e familiar e à proteção legal contra quaisquer formas de discriminação”.

Aquilo que Ventura faz é espezinhar sem escrúpulos cada um destes muitos preceitos constantes neste artigo. Quem o autorizou a utilizar a foto com todas aquelas pessoas para lhes chamar bandidos? Que autoridade tem para destruir o bom nome e reputação de todas aquelas pessoas, incluindo de uma criança? Quem o autorizou a destruir a reserva de intimidade privada e familiar das pessoas na foto, mostrada para centenas de milhar de pessoas em todo o país?

Isto é verdadeiramente ignóbil e uma forma de fascismo que não se coaduna com os valores humanistas de Portugal nem pelo respeito da Constituição e da Lei. Aquilo que faz não é ser politicamente incorreto.

É não ter escrúpulos, utilizando vidas de pessoas como meios para atingir os seus fins com objetivos eleitorais e de promoção pessoal.

André Ventura não tem condições continuar como candidato à Presidência da República nem tão pouco como deputado, por estar a fazer incitação ao ódio, contra o que estabelece o art.º 240 do Código Penal, ao rotular de forma infundada um grupo de pessoas de origem africana como
bandidos. Saia de cena senhor Ventura!

Paulo Pisco
Deputado do PS (Círculo da Europa)

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