Salários portugueses crescem três vezes menos do que a média da OCDE

Desemprego alto dos últimos anos provocou cicatrizes. Regime do subsídio de desemprego forçou a aceitação de salários mais baixos. Desatualização das qualificações ajuda a agravar.

O salário médio declarado à Segurança Social subiu, até abril, apenas 1,6% face aos primeiros quatro meses de 2017, indicam dados do ministério de Vieira da Silva. Há um ano, o ritmo era três vezes superior; o ordenado médio bruto declarado estava a subir 5,4%. Depois desacelerou tanto que o aumento médio ficou-se por apenas 1% no ano de 2017 como um todo.

Este avanço médio de 1%, que resulta das declarações de 2,4 milhões de pessoas à Previdência, é uma situação que deve repetir-se em 2018, ou seja, será três vezes inferior à média dos países ricos.

Em 2018, o salário português cresce três vezes mais devagar face ao que sucede na OCDE (2,9%) e a metade do ritmo da zona euro (2,2%).

As previsões mais recentes, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), por exemplo, sinalizam que pouco irá mudar nos próximos tempos. A remuneração média bruta por trabalhador irá crescer 1% neste ano e 1,5% na média de 2018 e 2017, colocando assim Portugal como um dos países de maior moderação salarial no grupo das 32 economias desenvolvidas analisadas – as que formam a OCDE.

As projeções do chamado clube dos países mais ricos mostram que o aumento médio salarial em 2018 e 2019 pode ascender a 3,1% na OCDE, o que significa que em Portugal os ordenados estão a crescer a metade do ritmo, até menos. A média estimada para a zona euro também é superior: 2,3%.

Olhando apenas para o ano corrente, a discrepância é ainda maior. Em 2018, o salário português cresce três vezes mais devagar face ao que sucede na OCDE (2,9%) e a metade do ritmo da zona euro (2,2%).

Razões que ajudam a explicar este fenómeno não faltam. Os níveis elevados de « subutilização » do trabalho; o enfraquecimento dos sindicatos e da contratação coletiva, sobretudo durante os anos do programa de ajustamento da troika, mas que ainda hoje se sente; o facto de a economia portuguesa continuar ainda muito baseada em atividades pouco produtivas; o regime do subsídio de desemprego que se tornou mais restrito e obriga a aceitar ordenados inferiores, as qualificações relativamente baixas das pessoas; as cicatrizes do desemprego prolongado, que levam à desatualização das qualificações, e o desemprego jovem ainda muito alto.

Stefano Scarpetta, o diretor da OCDE para a área do Emprego, constata no seu blogue que os ensinamentos clássicos de economia « sugerem que menos desemprego se traduz em mais concorrência entre os empregadores para terem trabalhadores« , ou seja, « o crescimento dos salários deveria acelerar ». « No entanto, não é isso que estamos a ver ».

Por exemplo, a OCDE nota, em relação às cicatrizes que ficam quando se está muito tempo inativo, que Portugal pode ser dos piores casos. Cá, esse regresso ao emprego é muito mais demorado, o que tem consequências graves sobre as qualificações procuradas. A tecnologia avança, os modelos de negócio também, logo há uma desatualização rápida das « competências » humanas.

« Os que perderam o emprego encontram novos empregos muito mais rapidamente em alguns países do que noutros. Enquanto na Finlândia e na Suécia, cerca de 90% foram reempregados dentro de um ano, em França e Portugal esse valor ronda 30% ».

No caso de Portugal, como de muitos outros países, a OCDE aponta outras razões-chave para a moderação salarial.

« Os últimos dados disponíveis mostram que existe uma elevada subutilização do trabalho em países como Islândia, Portugal e Eslovénia« . Além disso, « o ambiente de baixa inflação e o abrandamento da produtividade contribuíram para esta desaceleração nas atualizações salariais ».

Alfa/DN

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