Silêncio de Moscovo inquieta. Radiação aumentou 16 vezes após explosão em base militar

GRANSEE, GERMANY - AUGUST 18: Russian President Vladimir Putin speaks at Schloss Meseberg palace on August 18, 2018 in Gransee, Germany. (Photo by Xander Heinl/Photothek via Getty Images)

Radiação aumentou até mais 16 vezes após explosão em base militar russa. Moscovo mantém silêncio

Foto ADAM BERRY/GETTY IMAGES

Com Moscovo a manter o secretismo em torno do acidente, os dados divulgados pelo serviço de meteorologia e a ordem dada esta terça-feira para os habitantes de Nyonoksa deixem a localidade – alegadamente por causa dos trabalhos ligados à investigação – foram recebidos com desconfiança

Alfa/Expresso. Por Mafalda Ganhão

Mais do que a preocupação levantada pelo pouco que se sabe sobre a explosão que aconteceu na semana passada na base militar russa situada junto ao Mar Branco, é aquilo que se desconhece que inspira sentimentos de dúvida. Depois de finalmente Moscovo ter reconhecido, esta segunda-feira, que o acidente que vitimou pelo menos cinco especialistas esteve ligado à realização de testes com “novas armas”, a notícia mais recente – já avançada esta terça-feira – foi a ordem dada aos habitantes da localidade de Nyonoksa para que deixem as suas casas enquanto decorrem os trabalhos de investigação.

A versão oficial é a de que a retirada nada tem a ver com a explosão, justificando-se pelas atividades militares que aí decorrerão, mas a data de saída está marcada para a manhã de quarta-feira e os comboios que transportarão as cerca de 500 mil pessoas que aí residem já estão a caminho.

O local fica a cerca de 30 quilómetros de Severodvinsk, lugar onde pouco depois da explosão foi anunciado um pico de radioatividade, ainda que o caráter nuclear do acidente não tenha sido também admitido de imediato pelas autoridades russas.

De Moscovo, a informação sai a conta-gotas, e é esse secretismo que está a gerar o nervosismo que Chernobyl explica. Com o serviço meteorológico nacional a confirmar que os níveis de radiação na cidade de Severodvinsk aumentaram entre 4 a 16 vezes, face ao habitual no território, às 12h00 de 8 de agosto, há quem duvide que a subida fosse apenas momentânea – como fez crer o próprio município na sua página online, sublinhando não haver risco para a saúde.

COMPROMISSO PARA NÃO FALAR

Há mais informações a contribuir para a intranquilidade. Esta terça-feira, a agência Tass avançou que os médicos que trataram as vítimas foram enviados para Moscovo para, eles próprios, serem examinados clinicamente. Mas não sem antes assinarem um documento comprometendo-se a não divulgar qualquer detalhe sobre o que observaram ou concluíram.

O que está em jogo? Porque se, por um lado, parece seguro que este acidente não é comparável ao desastre de Chernobyl, com a Agência de Segurança Radioativa e Nuclear da Finlândia a confirmar que, de facto, os valores da radiação atmosférica voltaram ao normal depois da explosão, por outro, ninguém duvida que Putin guarda segredos.

Especialistas norte-americanos citados pelo “New York Times” acreditam que os testes conduzidos a partir de uma plataforma offshore se destinavam a avaliar o SSC-X-9 Skyfall. Foi o Presidente russo quem, em 2018, anunciou a intenção de desenvolver um míssil nuclear de cruzeiro capaz de usar uma fonte de combustível nuclear a bordo e de voar por períodos indefinidos, contornando qualquer sistema anti-míssil conhecido. Uma arma para chegar a qualquer parte do planeta.

Uma fonte da indústria militar russa desmentiu que esse fosse o míssil a ser testado, mas pouco mais se saberá enquanto o acidente continuar sob investigação, considerada segredo de Estado. Tal como se mantém sob segredo de Estado o caso ocorrido em julho, quando 14 oficiais russos morreram a bordo de um submarino nuclear que se incendiou no mar de Barents.

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