O surf vai integrar pela primeira vez o quadro dos Jogos Olímpicos, em Tóquio 2020, e Frederico Morais é, neste momento, o surfista português com maiores possibilidades de vir a disputar essa competição, não escondendo o seu entusiasmo.
« Adorava competir por Portugal nos Jogos Olímpicos. Gostava muito, era um orgulho enorme e há de ser um objetivo. O surf já é um desporto superprofissional, mas acho que os Jogos Olímpicos vão trazer ainda mais profissionalismo ao nosso mundo do surf. E acaba por dar mais força ao surf, porque há pessoas que nunca ouviram falar de surf que vão ouvir falar por causa dos Jogos Olímpicos », afirmou, em entrevista à Lusa.
Segundo ‘Kikas’, Portugal já tem « muitos miúdos a surfar bem », pelo que a promoção do surf a modalidade olímpica « vai dar mais força » ainda ao desporto.
De resto, o surfista do Guincho – que em 2017 e em 2018 disputou o circuito mundial de surf (CT) – considera que, para a dimensão do país, esta modalidade está bem implementada em Portugal.
« Já tivemos um [surfista no CT, Tiago Pires], outro [o próprio ‘Kikas’], podemos um dia ter dois, estamos a tentar. Por isso acho que os números estão corretos. As coisas devem ser feitas com calma. Há trabalho para fazer, mas temos ótimas ondas, temos boas infraestruturas e o mais importante é surfar, surfar e surfar », considerou.
Frederico Morais não conseguiu garantir a continuidade entre a elite do surf mundial em 2019, mas não baixa os braços e vai correr o circuito de qualificação para tentar voltar já em 2020 ao circuito mundial (CT), tendo a possibilidade de ser chamado para disputar algumas provas do CT em caso de lesões ou desistências de outros competidores.
« Se 2019 fosse como 2018 [em termos de lesões] eu estaria no World Tour ainda », lançou, admitindo que pode vir a ser convidado para disputar a prova do CT que se disputa em outubro em Peniche.
« Creio que sim, mas não gosto de criar expectativas. Agora estou focado no circuito de qualificação. Se houver algum bónus do World Tour, ótimo, senão, também estou focado nos meus objetivos », sublinhou.
Questionado sobre se a sua despromoção do CT afetou os patrocínios, ‘Kikas’ disse que tal não aconteceu.
« Não. Felizmente eu tenho ótimos patrocínios, que me apoiam desde que eu tenho 14/16 anos, ou seja, vêm desde há muito tempo e não é pelo WT ou pelo QS. Felizmente tenho patrocinadores que acreditam no meu sonho e que acreditam na minha pessoa, naquilo que eu faço e na mensagem que tento transmitir e isso é ótimo », salientou.
Sobre as condições existentes em Portugal para fazer uma carreira no surf, ‘Kikas’ considerou que os mais novos não se devem deslumbrar, mas devem seguir os seus sonhos.
« Eu acabei o meu 12.º ano. Por isso, acho que não é preciso deixar os estudos para se ter uma carreira profissional no desporto, ainda para mais hoje em dia, em que é tudo muito mais fácil. Em termos de dinheiro, eu acho que o sonho não deve ser alimentado pelo dinheiro, mas sim pela paixão que nós temos por aquilo que queremos fazer. Por isso, acho que trazer dinheiro para esta conversa é completamente errado », vincou.
Sobre a importância do surf na atração de turistas das mais variadas geografias para Portugal, Frederico Morais não tem dúvidas que o país oferece condições naturais excelentes para a modalidade, e vê com bons olhos esse reconhecimento internacional.
« Acho que é sempre bem-vinda [a onda de turista em busca das ondas portuguesas]. Porque isto está tudo ligado. Se nós tivermos turismo, provavelmente irá haver mais investimento para termos campeonatos, cá em Portugal, se isso acontecer, podemos dar retorno aos nossos patrocinadores, e isso trará novos patrocínios. Ao fim do dia, dá a conhecer este país bonito que nós temos », assinalou.
E será que uma piscina de ondas, semelhante à desenvolvida pelo mítico Kelly Slater no seu Surf Ranch, no Texas, Estados Unidos, faz falta a Portugal? ‘Kikas’ diz que a construção de uma infraestrutura semelhante seria interessante, mas não fundamental.
« Gostei muito de surfar no Surf Ranch, mas competir acho que não foi a experiência mais divertida. Acho que é muito melhor surfarmos no mar. O mar é o mar, é a natureza. A piscina de ondas tem o fundo de cimento. É bom em termos técnicos, porque podemos surfar e repetir a mesma coisa várias vezes, o que é uma coisa que não temos no surf. Porque nenhuma onda no mar é igual, muda sempre alguma coisa. Seja a secção ou a velocidade da onda, muda sempre qualquer coisa. Enquanto ali, na piscina, as ondas são todas iguais. Ou seja, para nós repetirmos uma manobra várias vezes é ótimo », disse, antes de destacar que Portugal tem das melhores ondas do mundo.
Já sobre a renovação geracional no CT, com a retirada voluntária de surfistas como Mick Fanning ou Joel Parkinson, ‘Kikas’ destaca o papel ímpar destas estrelas na atual projeção da modalidade.
« Eu tive a sorte de competir contra eles todos. Conheço-os bem. Ver agora os jovens que se começam a apoderar e eles a sair de cena, em termos competitivos, mas vão estar sempre muito presentes no mundo do surf, nem que seja em filmes de surf e livros de surf. Acho que representam super bem o surf e acima de tudo apoiam os mais novos. Gostam de ver surf e gostam de nos ver brilhar. Não têm medo de nos dar força e de nos dar conselhos, e isso é o que eu acho mais bonito no surf », realçou.
De resto, Frederico Morais admitiu que ficou feliz com o título mundial conquistado pelo brasileiro Gabriel Medina em 2018, até porque ambos mantêm uma « boa amizade », reforçada durante o último ano.
« Eu sabia bem o quanto ele trabalhou para conseguir este título e o quanto ele queria este título, por isso, vê-lo a realizar um objetivo – ainda para mais sob pressão no fim do ano – foi bonito », assinalou.
Quantos aos favoritos para ganhar o título de campeão do mundo em 2019, ‘Kikas’ aponta novamente para os três surfistas que disputaram até ao fim entre si esse reconhecimento em 2018.
« É uma aposta difícil. Diria que o Julian [Wilson] há de voltar forte. Eu quase que aposto nos mesmos três que disputaram este ano, que são o Julian, o Filipe [Toledo] e o Gabriel [Medina] », rematou.
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Alfa/Lusa.