Ao final da manhã de terça-feira, a ponte de Morandi colapsou. O dia estava nublado e chuvoso, a visibilidade era reduzida e os condutores e passageiros que atravessavam a estrutura foram apanhados de surpresa pela queda de uma parte do tabuleiro. As causas da derrocada são ainda desconhecidas. Esta manhã de quarta-feira, um novo balanço oficial, ainda provisório, apontava para 35 mortos e diversos feridos graves.
Alfa/Expresso, por Marta Gonçalves. (adaptado e atualizado)
O QUE ACONTECEU?
Faltavam dez minutos para o meio-dia desta terça-feira (menos uma hora em Portugal) quando a ponte Morandi, na cidade de Génova, no noroeste de Itália, quebrou. No tabuleiro da ponte estavam dezenas de carros. Por baixo, uma série de casas, empresas e fábricas. Nesteminuto-a-minuto pode recordar ao pormenor o que sucedeu ao longo do dia.
HÁ VÍTIMAS?
Às 00h00 desta quarta-feira, o número oficial de vítimas mortais estava fixado em 26, estando já 19 cadáveres identificados. Mas na manhã de quarta-feira o balanço ainda provisório era mais pesado: 35 mortos.Ao longo do dia de terça, gerou-se a confusão com o governo da região de Ligúria, cuja capital é Génova, a dar como certos 35 mortos através de uma publicação nas redes sociais. No entanto, pouco depois a publicação foi apagada. Ao final da tarde, em conferência de imprensa, as autoridades esclareceram a situação e não deixaram margens para dúvidas: 23 pessoas morreram no local, duas foram resgatas sem vida dos escombros e outra não resistiu a uma cirurgia e morreu já no hospital.
Há ainda 15 pessoas feridas, estando nove em estado considerado muito grave. Foram transportadas para quatro hospitais. Mas repete-se que o balanço oficial , na manhã de quarta-feira, é de 35 moortos.
Fonte da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas assegurou que, “até ao momento”, não há portugueses entre as vítimas da queda de parte da ponte em Génova.
Onze edifícios foram evacuados, o que obrigou à retirada de 432 pessoas. Os trabalhos de limpeza vão continuar e estima-se que sejam necessários entre dez a 15 dias – trabalhando 24 horas sobre 24 horas – para que sejam concluídos.
QUE PONTE É ESTA? E QUEM CONSTRUIU?
A ponte Morandi atravessa o rio Polcevera, em Génova, e liga os dois lados da cidade. Foi construída em 1969 e o seu nome é uma homenagem ao seu arquiteto, Riccardo Morandi, celebrado em Itália como um dos mais visionários arquitetos do século XX e que ficou famoso precisamente pelas suas pontes de betão.
Há dois anos, já o engenheiro Antonio Brencich, da Universidade de Génova, garantia que existiam motivos de preocupação. “Pouco após a sua construção, o viaduto Morandi já apresentava problemas. Não foram tidos em consideração, por exemplo, os efeitos da deterioração do betão, que acabaram por resultar num plano de estrada não-horizontal”, explicou à página de notícias da comunidade de engenheiros civis Ingegneri. “Mesmo nos anos 80, aqueles que passassem na ponte teriam que conduzir sobre altos e baixos dado o deslocamento da placa de circulação. Só as repetidas correções de elevação permitiram ter o atual aspeto [em julho de 2016] semi-horizontal”, acrescentou.
QUAL A CAUSA?
Até ao momento, não foi avançada uma explicação oficial por parte das autoridades italianas. O diretor em Génova da concessionária responsável pela manutenção da ponte, Stefano Marigliani, assegurou à imprensa que estavam a ser feitas “obras de reforço”.
Na altura do acidente, a base da ponte Morandi estava a ser alvo de “obras de reforço”. “O colapso foi inesperado e imprevisível. A ponte era constantemente monitorizada, até mais vezes do que o previsto na lei”, disse.
No entanto, a Proteção Civil, através do seu líder, Angelo Borrelli, disse não ter qualquer informação sobre essa intervenção.
QUEM REAGIU?
“Uma imensa tragédia”. Foram estas as palavras escolhidas pelo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, que ao final da tarde desta terça-feira viajou para a cidade portuária e visitou o local. “É chocante ver o metal retorcido e a ponte desmoronada, com as vítimas a serem de lá retiradas”, disse, citado pela televisão pública RAI.
Matteo Salvini, ministro do Interior, foi um dos primeiros a dar como certa a morte de pelo menos três dezenas de pessoas, apesar de este número não correponder ao que estava a ser oficialmente divulgado pelas autoridades de Proteção Civil. Já o ministro italiano das Infraestruturas e Transportes, Danilo Toninelli, denunciou a falta de manutenção da ponte. “Os responsáveis vão ter de pagar por isto até às últimas consequências”, disse. “Como cidadão italiano, lamento muito que os trabalhos de manutenção não tenham sido feitos.”
O Presidente da República telefonou ao homólogo italiano, Sergio Mattarella, e deixou as condolências pela morte das 26 pessoas. “Neste momento difícil, quero enviar sentidas condolências aos familiares das vítimas e também expressar a vossa excelência, em meu nome e no do povo português, toda a solidariedade para com o povo italiano e, em particular, para com todos os que foram afetados, a quem envio os votos de rápida recuperação”, lê-se na nota enviada por Marcelo Rebelo de Sousa e que foi divulgada na página da Presidência da República.
De Bruxelas, também se pronunciou o presidente da Comissão Europeia. Jean-Claude Juncker manifestou-se “profundamente consternado com o colapso do viaduto” em Génova, “que custou tantas vidas”. “Em nome da Comissão Europeia, expresso as minhas mais profundas e sinceras condolências aos familiares e próximos daqueles que morreram e ao povo italiano”, lê-se numa mensagem de Juncker, divulgada esta tarde em Bruxelas e citada pela agência Lusa