A França saudou hoje o anúncio da Rússia de que vai retirar algumas das suas tropas da fronteira ucraniana como um “sinal positivo”, mas Alemanha e Reino Unido reagiram mais cautelosamente e disseram esperar atos concretos.
A Rússia disse que parte das suas forças perto da Ucrânia vão iniciar hoje o processo de regresso aos quartéis por terem concluído os exercícios militares em que estavam envolvidas.
A medida foi divulgada horas antes do início de um encontro em Moscovo entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, sobre a crise entre a Rússia e o Ocidente.
“Se forem confirmados, seria um sinal positivo, um sinal de desescalada que temos vindo a pedir há semanas”, disse o porta-voz do Governo francês, Gabriel Attal, citado pela agência France-Presse (AFP).
Attal disse que nas próximas horas, “estão planeados intercâmbios a nível de chefes de Estado, e em particular com o Presidente da República”, referindo que Emmanuel Macron alterou a sua agenda para a tarde de hoje.
“Isto confirmaria também que fizemos bem em retomar o diálogo. Recordo que o Presidente da República [Macron], ao deslocar-se a Moscovo, ao conversar com Vladimir Putin, reiniciou um diálogo com a Rússia, precisamente para alcançar uma estabilização, ou mesmo uma desescalada”, disse Attal.
O porta-voz referiu que desde o início da crise, a França procurou manter uma “linha de prudência, rigor e, sobretudo, de trabalho e diálogo”.
“Nunca estivemos numa reação exagerada, nem num sentido nem no outro”, disse.
Emmanuel Macron encontrou-se com Vladimir Putin em Moscovo, em 07 de fevereiro, antes de ter uma reunião no dia seguinte, em Kiev, com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Fonte do Eliseu disse à AFP que Macron voltará a falar esta tarde com o Presidente norte-americano, Joe Biden.
Em Madrid, a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, disse que o anúncio de Moscovo deve ser “seguido de factos”.
“Até agora, só houve anúncios e estes devem agora ser seguidos de factos, porque precisamos de confiança, precisamos de segurança para todos os cidadãos aqui, no nosso país, na Europa”, disse Baerbock numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo espanhol, José Manuel Albares.
Baerbock disse que a Alemanha não tem ilusões sobre a “capacidade da Rússia para levar a cabo os seus planos”.
“É precisamente por isso que, nas últimas semanas, temos vindo constantemente a apontar ao Governo de Moscovo, a todos os níveis e através de todos os canais, as consequências de qualquer agressão contra a Ucrânia”, disse, citada pela AFP.
Segundo Baerbock, o caminho para sair da crise está “claramente traçado” e passa por conversações entre as partes.
“Cabe agora à Rússia comprometer-se com uma desescalada e apoiá-la com medidas muito concretas, como a retirada das tropas”, acrescentou a chefe da diplomacia alemã.
Também o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, apelou a Moscovo para um “programa de desescalada” que permita uma “sensação de que a ameaça acabou ».
“Acreditamos que existe um caminho para a diplomacia”, disse Johnson em Londres, após uma reunião interministerial de crise sobre a Ucrânia.
Johnson disse que as informações dos serviços secretos sobre a presença russa nas fronteiras da Ucrânia “ainda não são encorajadoras”.
“A Rússia está aberta ao diálogo, mas, por outro lado, a [informação da] inteligência que vemos hoje ainda não é encorajadora”, disse, citado pela AFP.
Referiu-se, em concreto, a “hospitais de campanha russos em construção perto da fronteira ucraniana na Bielorrússia” e a “mais grupos táticos de combate a aproximarem-se da fronteira”.
“Os sinais são, neste momento, mistos, o que nos dá ainda mais razões para sermos muito firmes e muito unidos, especialmente no que diz respeito às sanções económicas” contra Moscovo em caso de ataque, disse.
Algumas das sanções do Ocidente contra Moscovo, em caso de ataque à Ucrânia, visam o acesso das empresas russas ao mercado financeiro em Londres.
Os Estados Unidos alertaram, na sexta-feira, que a Rússia podia atacar “a qualquer momento” e aconselharam os seus cidadãos a sair da Ucrânia, no que foram seguidos por vários países, incluindo Portugal.
O Ocidente acusa a Rússia de tencionar invadir novamente o país vizinho, depois de ter anexado a península da Crimeia em 2014.
A Rússia nega qualquer intenção bélica, mas exigiu garantias para a sua segurança, incluindo uma promessa de que a Ucrânia nunca será membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
Com Agência Lusa.