O Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu hoje “novas soluções” de cooperação em matéria de segurança e defesa com África, apontando como um bom exemplo o apoio prestado pelo Ruanda a Moçambique no combate a insurgentes em Cabo Delgado.
Intervindo na cerimónia inaugural da cimeira UE-África que teve hoje início em Bruxelas, na condição de presidente em exercício do Conselho da UE no semestre em curso, Emmanuel Macron abordou as várias mesas redondas temáticas de líderes europeus e africanos que se desenrolarão ao longo dos dois dias de trabalhos, entre as quais aquela consagrada à “paz, segurança e governação”, na qual participará o primeiro-ministro português, António Costa.
“Devemos completar o que estamos a fazer no Sahel e no Golfo da Guiné, como anunciámos esta manhã [no Eliseu], mas devemos também ajudar a construir novas soluções. O Ruanda, em cooperação com Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), ajudou por exemplo a fornecer uma reposta inédita para a situação em Moçambique”, disse.
O chefe de Estado francês acrescentou que é necessário também assegurar e acordar “o financiamento de tais operações” e promovê-las, apontando que é preciso “convencer as outras nações no seio das Nações Unidas a acompanhar este movimento”.
Os líderes da União Europeia (UE) e da União Africana (UA) reúnem-se entre hoje e sexta-feira em Bruxelas, na VI cimeira UE/África, sucessivamente adiada devido à pandemia, com a participação de perto de 80 delegações ao mais alto nível dos Estados-membros das duas organizações, incluindo Portugal e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), com Moçambique a ser representado pelo Presidente, Filipe Nyusi, que na semana passada, numa visita a Bruxelas, apelou precisamente à UE para a necessidade de financiar as forças militares do Ruanda e SADC que estão no terreno a apoiar as forças armadas moçambicanas no combate à insurgência.
Também face à forte adesão, esta VI Cimeira tem um formato inédito, tendo fontes diplomáticas explicado que foi decidido organizar não a habitual “longa sessão plenária com tantas delegações, que dificilmente produziria resultados”, mas sim várias mesas-redondas temáticas, moderadas pelos próprios líderes (um ou dois chefes de Estado e de Governo de cada parte, UE e UA).
As sete mesas redondas serão consagradas aos temas «Financiamento para o crescimento sustentável e inclusivo», «Alterações climáticas e transição energética, digital e transportes», «Paz, segurança e governação», «Apoio ao setor privado e integração económica», «Educação, cultura, formação profissional, migração e mobilidade», «Agricultura e desenvolvimento sustentável» e «Sistemas de saúde e produção de vacinas».
O primeiro-ministro português, António Costa, participará em duas das mesas redondas, começando por intervir, hoje, na mesa consagrada ao tema «Paz, segurança e governança”, e copresidindo na sexta-feira àquela dedicada à educação e migrações.
Em declarações à Lusa na terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que acompanha o chefe de Governo na cimeira, explicou que a escolha destes dois enfoques tem a ver com os temas em que Portugal mais pode contribuir dada a sua experiência.
Relativamente às questões da paz e segurança, Santos Silva lembrou o “grande protagonismo de Portugal” no acordo alcançado com Moçambique, no ano passado, sobre o apoio europeu em matéria de formação e treino militar no combate ao terrorismo, isto numa altura em que a Europa se inquieta cada vez mais com a presença de mercenários (designadamente russos) em países africanos e debate o futuro das missões no Sahel.
Com Agência Lusa.