Um terrorista-gangster trava “coletes amarelos”

O ataque de um terrorista, num mercado de Natal em Estrasburgo (dois mortos, 13 feridos, seis deles graves), fez passar o movimento dos “coletes amarelos” para segundo plano. A declaração, pelo Governo, do “estado de emergência atentados” pode levar à proibição de manifestações previstas para este fim de semana. À hora de fecho desta edição, o terrorista continuava em fuga

Alfa/Expresso. Artigo publicado no Expresso/Diário de quarta-feira, às 18 horas de Portugal

emoção é enorme em França depois do ataque terrorista, com arma de fogo e punhal, ao princípio da noite desta terça-feira, na zona mais turística e central da cidade francesa de Estrasburgo, capital da região da Alsácia, no leste do país. O ataque, numa das cidades mais simbólicas da Europa, sede do Parlamento Europeu, foi esta quarta-feira a principal notícia no território francês.

O regresso do terrorismo a França, nas vésperas das festas de Natal e de fim de ano, é um choque para um país em crise grave, muito afetado pela violência das últimas semanas devido ao movimento muito radical dos “coletes amarelos”.

“Foi um horror”, declarou uma testemunha. “Ouvimos vários tiros”, afirmou outra. “Estamos em choque”, disse um homem que teve de refugiar-se, com a mulher e os dois filhos, num dos comércios da zona atingida, onde a família esteve retida durante mais de cinco horas, até perto das duas horas da madrugada desta quarta-feira.

O terrorista, identificado rapidamente pelas autoridades como sendo Chérif C., é um francês de origem magrebina, nascido em Estrasburgo há 29 anos, e ainda não tinha sido detido à hora de fecho desta edição.

Chérif é bem conhecido, como delinquente, pela polícia francesa e também pelas comngéneres alemã e suíça. Com Ficha S – de islâmico radicalizado – nos serviços de segurança franceses desde 2016, terá sido indiciado e acusado, segundo a imprensa francesa, em dezenas de casos de delito comum, designadamente assaltos a bancos e outros crimes. Terá sido preso e condenado, por esse motivo, várias vezes em França, na Alemanha e na Suíça.

A ministra francesa da Justiça, Nicole Belloubet, informou que ele cumpriu duas penas de prisão, de dois anos cada uma, em França. Foi igualmente condenado a “27 meses de prisão na Alemanha, por assaltos”, disse um porta-voz do ministério do Interior da região de Bade-Wurtemberg.

O Ministério Público francês afirma, nesta quarta-feira, que se tratou, “sem dúvida alguma” de “um atentado”.

“É um gangster, com 29 anos e 27 condenações no penal, o que é enorme para a sua idade. É um homem que se radicalizou na prisão e que decidiu ontem passar à ação, como islamita, quando era procurado por um assalto a um banco”, explicou um comentador no canal televisivo BFMTV.

“É muito bem conhecido dos serviços da polícia e da Justiça”, confirmou Rémi Heitz, procurador da República de Paris.

“COLETES AMARELOS” ENTRE EMOÇÃO E CONSPIRAÇÃO

A notícia deste atentado de Estrasburgo foi recebida como um choque por muitos dos manifestantes dos “coletes amarelos” que continuavam nesta quarta-feira a bloquear estradas em França e pretendem organizar novas manifestações, em todo o país, no próximo fim de semana.

Nos bloqueios de estradas – e também na rede Facebook – há grande emoção com o atentado, mas também se desenvolvem “teorias da conspiração”.

“É uma bênção para o Governo, porque nós, os ‘coletes’, passamos para segundo plano”, disse um dos manifestantes. “Se o estado de emergência se confirmar não nos poderemos manifestar”, exclamou outro.

Muito longe de Estrasburgo, em Bordéus, a cidade mais atingida pelos incêndios e pela violência de passado sábado durante concentrações dos “coletes amarelos”, as manifestações programadas para o próximo fim de semana já foram oficialmente proibidas. Outras medidas idênticas poderão ser tomadas noutras regiões.

Num debate, esta tarde, no Parlamento francês, o líder da esquerda não alinhada, Jean-Luc Mélenchon, pediu ao Governo para responder aos terroristas deixando as pessoas manifestarem-se. “Eles não nos intimidam, a melhor resposta ao terrorismo é que a França deve continuar a viver e a manifestar-se!”, declarou o chefe do movimento França Insubmissa. O primeiro-ministro, Édouard Philippe, respondeu-lhe positivamente, e Mélenchon aplaudiu-o.

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