“Uma casa portuguesa, sem certeza”. Aumento de estrangeiros sem-abrigo em Lisboa

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(Foto de abertura: arquivo)

Aumento de estrangeiros entre sem-abrigo em Lisboa preocupa agentes no terreno

 

email sharing buttonAlfa/ com Lusa (adaptação Alfa)
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O aumento de cidadãos estrangeiros entre a população sem-abrigo em Lisboa está a preocupar os agentes no terreno, com o Alto Comissariado para as Migrações a indicar ter atendido cerca de 800 situações em 2022.

Os números que comparam 2021 e 2022 não deixam dúvidas: de 17 casos atendidos, o Alto Comissariado para as Migrações passou para “o desafio” de tentar dar resposta a “cerca de 800”, referiu Flávia Tourinho.

A técnica do ACM – que participou numa sessão de debate sobre pessoas em situação de sem-abrigo em Lisboa, realizada hoje na Biblioteca Camões – observou que a contabilidade de “pouquíssimas situações” envolvendo estrangeiros “mudou de julho para cá”, reconhecendo que “tem sido um desafio, uma situação que preocupa e muito complicada de gerir”.

Isto porque, realçou, “Lisboa tem muita resposta, mas está ocupada”, desde logo porque também teve necessidade de acolher a comunidade ucraniana em fuga à guerra que dura há um ano.

Organizado pelo grupo de cidadãos Morar em Lisboa, o debate “Uma casa portuguesa, sem certeza” juntou outros agentes no terreno que confirmaram o aumento de cidadãos estrangeiros a viverem nas ruas da capital.

João Marrana, do gabinete da vereadora de Direitos Humanos e Sociais da Câmara Municipal de Lisboa, reconheceu que “aumentou muito o número de pessoas na rua” e que “o perfil mudou de uma forma muito evidente”.

Com o número de cidadãos estrangeiros a “ultrapassar em muito” o dos cidadãos nacionais em situação de sem-abrigo, João Marrana partilhou a surpresa face ao “número considerável” de argelinos e marroquinos, que, juntamente com “as vagas de timorenses angariados por redes e despejados na cidade”, ajudam a explicar esse aumento.

“É todo um fenómeno novo”, constatou.

Já Américo Nave, da associação Crescer, alertou para a situação dos “imigrantes indocumentados”, relatando que estes não estão a ter acesso aos albergues de acolhimento de pessoas em situação de sem-abrigo.

“Temos de melhorar muito as respostas”, considerou, reconhecendo que “tem havido um forte investimento”, quer a nível local, quer a nível nacional.

“Muito já foi feito, mas muito há ainda a fazer” concordou José Serôdio, da Cáritas, pedindo “maior organização” ao Estado.

Realçando que “Lisboa tem 60% da oferta de camas no país” para sem-abrigo, João Marrana salientou que “as respostas têm de ser adaptadas às realidades e às necessidades” desta população.

Américo Nave recordou que os sem-abrigo ainda enfrentam a “diabolização” e o “estigma” e defendeu uma aposta na prevenção, “para ajudar as pessoas a não chegarem à rua”.

José Serôdio sublinhou, por outro lado, que “são muito raros” os casos de pessoas que preferem ficar na rua (e geralmente associados a traumas e problemas mentais).

O debate incluiu o testemunho de Jorge Moreira e da sua passagem pelas ruas de Lisboa e por quatro centros de acolhimento, que, licenciado e ex-consultor imobiliário, se queixou de ter sentido “falta de reconhecimento” enquanto pessoa.

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