Vaga anormal de suicídios na polícia francesa. Três suicídios ao longo desta semana elevaram para 29 o número de agentes que puseram fim à vida desde o início do ano. Durante os confrontos de ontem em Paris, manifestantes mais radicais gritaram “suicidem-se, suicidem-se!”, provocando a indignação da classe política
Alfa/Expresso. Por Daniel Ribeiro
As causas dos sucessivos suicídios ainda não foram devidamente estudadas, mas a forte vaga de agentes que puseram fim à vida (muito mais elevada do que em anos anteriores) , geralmente a tiro com a arma de serviço, inquieta as autoridades.
A tal ponto que o ministro do Interior, Cristophe Castaner, decidiu tomar medidas e criar uma “célula alerta prevenção suicídio” enquadrada no que chamou um “plano anti suicídio”. Vai também ser aberta uma linha telefónica especial, com psicólogos, em funcionamento permanente para atender os agentes em estado de depressão. “Não hesitem, não tenham vergonha, telefonem, falem com os vossos camaradas e comandantes desde que sintam um pequeno problema”, disse Castaner.
Uma das causas apontadas para os problemas que conhecem as forças policiais é o cansaço e a saturação com o excesso de trabalho, designadamente devido às manifestações, violentas e incessantes, dos “coletes amarelos” e também ao estado de alerta permanente devido à ameaça de atentados terroristas.
Os sindicatos da polícia pedem medidas urgentes e que “os problemas sejam resolvidos de raiz”.Uma das principais organizações dos agentes – o sindicato “Unité-SGP-FO” – apela a reuniões para “pôr fim a esta espiral dramática de suicídios”. “Temos de procurar as verdadeiras causas destes dramas… é intolerável atribuir os suicídios a problemas pessoais dos agentes”, acrescenta o sindicato.
Ontem, durante confrontos muito violentos no centro Paris, que duraram cerca de seis horas, alguns dos jovens mais radicais que participavam no 23º sábado consecutivo de manifestações dos “coletes amarelos”, gritaram frequentemente “Suicidem-se! Suicidem-se!” para os agentes que os enfrentavam.
Toda a classe política condenou, indignada, esta palavra de ordem entoada em coro por dezenas de manifestantes.
A crise dos “coletes amarelos” dura há mais de cinco meses. O Presidente Emmanuel Macron deverá responder às suas revindicações na próxima quinta-feira numa conferência de imprensa marcada para o Palácio do Eliseu.