Zelensky entra na campanha das presidenciais francesas e pede a Le Pen que admita que errou
Marine Le Pen foi banida da Ucrânia em janeiro de 2017, após ter defendido a anexação da península da Crimeia pela Rússia. Durante as presidenciais de 2017, a candidata da direita radical foi recebida em Moscovo. Zelensky admitiu agora que não quer perder a relação já construída com Macron. O mais proeminente opositor de Putin, Alexei Navalny, apelou, de uma forma mais direta, ao voto no atual Presidente francês.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, incentivou, nesta quarta-feira, a candidata presidencial francesa Marine Le Pen, que tem sido criticada pelas suas ligações próximas ao líder russo Vladimir Putin, a admitir que « cometeu um erro ».
« Se a candidata admitir que estava errada, (…) o nosso relacionamento pode mudar », disse o Presidente da Ucrânia durante uma entrevista televisiva, realizada a partir de Kiev.
Contudo, Zelensky acrescentou que não está “convencido de que tenha o direito de influenciar o que está a acontecer » em França, referindo-se ao duelo político entre Marine Le Pen e Emmanuel Macron, que no próximo domingo disputam a segunda volta das eleições presidenciais francesas.
« Quero dizer que, obviamente, tenho relações com Emmanuel Macron. E não gostaria de as perder », explicou o Presidente ucraniano.
Marine Le Pen foi banida da Ucrânia em janeiro de 2017, após ter defendido a anexação da península da Crimeia pela Rússia, em 2014, um ato considerado ilegal pela comunidade internacional.
Nas últimas semanas, a candidata francesa condenou a invasão da Ucrânia por Moscovo, mas voltou a pedir, na quarta-feira passada, uma « aproximação estratégica entre a NATO e a Rússia », logo que a guerra terminar.
A candidata de extrema-direita foi recebida por Vladimir Putin durante as eleições presidenciais de 2017, e o seu partido, a União Nacional, continua a usufruir de um empréstimo de nove milhões de euros a um credor associado a antigos soldados russos.
OPOSITOR DE VLADIMIR PUTIN APELA AO VOTO EM MACRON
De uma forma mais direta, o opositor russo Alexei Navalny apelou ao voto em Emmanuel Macron na segunda volta das eleições presidenciais francesas, acusando o partido da rival, Marine Le Pen, de comprometimento com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
« É sem qualquer hesitação que apelo aos franceses para que votem em Emmanuel Macron no dia 24 de abril, mas gostaria de me dirigir àqueles que não excluem votar em Marine Le Pen », escreveu o ativista numa série de mensagens na rede social Twitter.
Preso na Rússia desde janeiro de 2021, Navalny disse estar « chocado » com o empréstimo de nove milhões de euros contraído em 2014 pelo antigo partido de Le Pen, a Frente Nacional, agora União Nacional (RN, na sigla em francês), junto de um banco russo, o First Czech-Russian Bank (FCBR).
« Isto é corrupção. E é uma venda de influência política a Putin », denunciou o opositor do Kremlin.
O RN continua a reembolsar este empréstimo, que foi contraído em 2014 com um banco russo, que fechou em 2016, tendo a dívida sido atribuída a uma empresa russa de aluguer de automóveis, a Conti, e depois vendida à Aviazaptchast, uma empresa gerida por antigos militares russos.
« Este banco é uma conhecida agência de branqueamento de capitais que foi criada por instigação de Putin », afirmou Navalny, que construiu a sua notoriedade com as investigações sobre as redes de corrupção da elite russa.
Para justificar ter recorrido a uma instituição financeira russa, a FN acusou os bancos franceses de não lhe concederem empréstimos.
Considerado o principal adversário de Vladimir Putin, Alexei Navalny sofreu na Rússia em 2020, num grave envenenamento pelo qual responsabiliza o Kremlin. Este último nega, mas nunca abriu uma investigação. Em janeiro de 2021, e após um período de convalescença na Alemanha, Navalny regressou à Rússia e seria imediatamente detido.
Em março passado, o opositor russo, acusado de fraude e de desrespeito pelo tribunal, foi condenado a nove anos de prisão. Navalny já estava a cumprir uma pena de dois anos e meio de prisão por um antigo processo-crime.
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de cinco milhões das quais para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU – a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A guerra na Ucrânia, que entrou nesta quarta-feira no 56.º dia, já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito mais elevado.