25 Abril/50 anos. Centenas de milhares gritaram em Lisboa: « Abril sempre, fascismo nunca mais ». 

Parade in the Lisbon downtown marking the 50th anniversary of April 25 Revolution, Lisbon, 25th April 2024. Portugal celebrates the 50th anniversary of the Carnation Revolution that ended the authoritarian regime of Estado Novo (New State) that ruled the country between 1926 to 1974. ANTONIO COTRIM/LUSA

REPORTAGEM: 25 Abril: Centenas de milhares de pessoas desfilaram em Lisboa na festa dos 50 anos. Foi uma das maiores manifestações de sempre na capital portuguesa. 

A festa dos 50 anos de democracia levou à rua centenas de milhares de pessoas que encheram a Avenida da Liberdade, em Lisboa, para celebrar o 25 de Abril no tradicional desfile comemorativo.

Pintada com as cores dos cravos vermelhos, dos cartazes e das bandeiras de Portugal, de partidos e movimentos da sociedade civil, a Avenida da Liberdade voltou hoje a ser palco do tradicional desfile comemorativo do 25 de Abril. Hoje, uma festa especial, que assinalou o cinquentenário da revolução dos cravos.

« É a primeira vez. O meu pai costumava vir muito. Em honra dele vim aqui com a minha irmã e as minhas duas filhas », conta à Lusa João Cabral, de 42 anos.

De mão dada com a filha de quatro anos, explica que a trouxe ao desfile, embora considere ser « muito cedo » para falar com ela sobre a importância do 25 de Abril.

Atrás das duas chaimites, que seguiram na frente do desfile, uma coluna de centenas de milhares de pessoas fazia a festa de cravo ao peito ou em punho, num desfile que percorreu lentamente a avenida ao longo de mais de quatro horas.

« Se alguém pudesse duvidar que eles não passarão, temos aqui a demonstração disso mesmo », disse o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, já no discurso de encerramento do desfile, quando muitos ainda não tinham sequer chegado a meio do percurso.

Como habitualmente, o desfile foi também um encontro de gerações, algumas que já tinham saído à rua há 50 anos, outras que nasceram em democracia e fazem questão de a celebrar, e até os filhos dessas, que viveram hoje o seu primeiro 25 de abril.

« Eu não estava lá, mas estou aqui », lia-se num dos muitos cartazes que enfeitavam a multidão.

Com um brilho nos olhos, enquanto observa o início do desfile, Isabel Lagoa, de 72 anos, não tem dúvidas em afirmar que o 25 de Abril « foi o dia mais feliz » da sua vida.

« Significa tudo. A liberdade das amarras do fascismo », sublinha.

Com a mesma idade que Isabel Lagoa tinha em 1974 (22 anos), a jovem Catarina Rocha diz à Lusa que vê refletido nos avós a importância que teve a revolução dos cravos.

« Vejo pelos meus avós a alegria que foi o 25 de Abril. Para os jovens o 25 de Abril é liberdade », afirma.

Nas faixas centrais da Avenida, centenas de milhares de pessoas participaram no desfile, desde a rotunda do Marquês de Pombal até à Praça do Rossio, num passo lento, que às 16:30, uma hora após começar, deixava as pessoas que ainda não tinham saído do ponto de partida a questionarem-se se a marcha ainda não teria arrancado.

Nas laterais, outras tantas aproveitaram a sombra das árvores para ver o desfile passar, vendo-se também muitos jovens sentados no cimo das árvores e das paragens de autocarro. Apesar de não estarem a participar na marcha, não esqueceram o cravo vermelho, nem as palavras de ordem.

No meio da felicidade e festejos, José Marques, de 80 anos e ex-preso político, reconheceu que « há muita coisa que falta », ressalvando que « a democracia vai-se fazendo ao longo da vida ».

Após 50 anos, mais de metade da sua vida já foi passada em democracia, mas no cinquentenário da revolução dos cravos, lamenta que o país tenha descoberto finalmente « aqueles que no 25 de Abril preferiam estar no 24 de abril », referindo-se ao partido de extrema-direita Chega.

O alerta foi também deixado por Vasco Lourenço, sem referir o partido de André Ventura, falando em « tempos de incerteza e enorme preocupação », pelo contexto internacional, mas não só.

Sem especificar, alertou que « novos ditadores estão no terreno ou ameaçam surgir no horizonte », pondo em causa os valores de abril e encerrou o discurso, antes de se ouvir a segunda senha da revolução – « Grândola, Vila Morena », de José Afonso – com a frase que, durante a tarde, foi sendo repetida em uníssono: 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais ».

Alfa/ com Lusa (adaptação Alfa)

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