PM francês afasta ligação entre intervenção policial e morte de lusodescendente, mas manda abrir outro inquérito adninistrativo. Investigação judicial por homicídio involuntário também foi aberta. « Mais de cinco semanas depois, o desenrolar dos acontecimentos daquela noite permanece confuso », reconhece Edouard Philippe.
Alfa – com diversas fontes, incluindo AFP e Lusa
O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, disse ontem que as conclusões do relatório da Inspeção Geral da Polícia Nacional (IGPN) não estabelecem qualquer ligação entre a intervenção policial em Nantes e o desaparecimento do lusodescendente Steve Maia Caniço.
O relatório « indica que, à luz dos factos conhecidos à data da sua redação, não pode ser estabelecida uma ligação entre a intervenção das forças policiais e o desaparecimento de Steve Maia Caniço », disse Edouard Philippe numa declaração pública em Paris com o ministro do Interior, Christophe Castaner a seu lado.
O primeiro-ministro falava depois da confirmação pelas autoridades de que um corpo retirado do rio Loire, na segunda-feira à noite, era do jovem lusodescendente de 24 anos, que estava desaparecido há mais de cinco semanas.
Steve Maia Caniço estava desaparecido desde a noite de 21 para 22 de junho, em França, tendo sido visto pela última vez durante uma intervenção policial numa festa da música tecno em que participava, em Nantes.
O desaparecimento do lusodescendente causou ondas de choque em França, devido às imagens e descrições da intervenção policial, que mostravam a utilização de gás lacrimogéneo e balas de borracha contra os jovens.
Na sequência do ocorrido, o Ministério do Interior francês ordenou, a 24 de junho, a abertura de uma investigação pelo IGPN à atuação das forças policiais, cujas conclusões foram tornadas públicas agora pelo primeiro-ministro francês.
Edouard Philippe adiantou que o relatório evidencia as dificuldades ligadas à intervenção policial, adiantando que o arremessar « consecutivo » de projéteis contra os polícias levou ao uso de gás lacrimogéneo.
Segundo o primeiro-ministro francês, as conclusões da investigação levantam também dúvidas sobre a organização da festa.
« Mais de cinco semanas depois, o desenrolar dos acontecimentos daquela noite permanece confuso », disse.
Acrescentou que mandatou a Inspeção Geral da Administração para conduzir uma investigação às responsabilidades dos poderes públicos, nomeadamente câmara municipal (mairie) e prefeitura, bem como dos privados na organização da festa.
As conclusões desta investigação deverão ser conhecidas dentro de um mês.
Na mesma declaração pública, Edouard Philippe apresentou condolências à família de Steve Maia Caniço e prometeu transparência em todo o processo.
« O falecimento de Steve Maia Caniço é um drama que nos toca a todos. Gostaria de exprimir o meu pesar e do Governo e endereçar aos pais deste jovem as mais sinceras condolências. Sei que as palavras significam pouco quando perdemos um filho, mas desejo encontrá-los em breve, juntamente com o ministro do Interior, para lhes testemunhar o nosso apoio e a nossa vontade de transparência total », disse.
Na sequência da retirada do corpo do rio Loire e da sua identificação, as autoridades juidiciais anunciaram a abertura de uma investigação por suspeitas de « homicídio involuntário », enquanto decorrem várias outras diligências para tentar esclarecer as circunstâncias da intervenção policial.
Duas associações francesas abriram um processo contra as autoridades, em nome de 88 pessoas que estavam presentes aquando da carga policial.
Esta queixa coletiva foi apresentada por a ação policial ter « posto em perigo a vida » dos jovens, recorrendo a « violência voluntária », tendo reunido cerca de 140 testemunhos.
Depois das declarações do PM, Cécile de Oliveira, advogada da família de Steve evocou um « caso de Estado ». « Claramente, o facto do executivo asssumir um caso que foi confiado a um juiz de instrução, parece-me revelador de um momento político muito complicado sobre as intervenções policiais », declarou a advogada (na foto)
Este caso está a ter grande relevo em França, onde é notícia de primeiro plano em todos os media.