EUA/Eleições. Trump ou Kamala: Portugueses e lusodescendentes divididos. Reportagem

Um galo de Barcelos gigante é um dos 'amuletos' presentes no restaurante da luso-descendente Rosemary Pereira (C), proprietária do restaurante Little Portugal, instalado na pequena cidade de Fuquay-Varina, Carolina do Norte, Estados Unidos da América, 31 de outubro de 2024. Com pratos portugueses e venda de produtos nacionais, tem o negócio há quatro anos e é apoiante convicta de Donald Trump, principalmente por achar que a economia americana irá melhorar se o candidato republicano vencer as eleições. (ACOMPANHA TEXTO DE 02 DE NOVEMBRO DE 2024). NUNO VEIGA/LUSA

REPORTAGEM: EUA/Eleições: « Pulso forte » de Trump e « apoio às mulheres » de Kamala dividem portugueses em Filadélfia

 

Por Marta Moreira, da agência Lusa 

A comunidade portuguesa em Filadélfia é hoje um espelho da política norte-americana, dividida entre o « pulso forte » de Donald Trump na economia e o apoio de Kamala Harris aos direitos reprodutivos das mulheres.

Ao final de cada semana, o Clube Português da Filadélfia é paragem obrigatória para a comunidade portuguesa – cada vez mais reduzida – na maior cidade da Pensilvânia, um estado decisivo para as eleições presidenciais da próxima terça-feira e que se anteveem muito renhidas.

Entre servir a uma mesa uma dose de carne estufada e a outra uma de salmão grelhado, Ruy Raimundo, presidente do ‘Philadelphia Portuguese Club’, fez uma pausa para contar à Lusa que é o ex-presidente e candidato republicano, Donald Trump, quem levará o seu voto, apesar de admitir que não gosta « da linguagem e da postura » do magnata.

« A maior preocupação que tenho neste momento é o estado a que chegou este país. Continua a ser o melhor país do mundo para mim e para quem quer dar a volta à vida, continua a ser o país das oportunidades, mas acredito que os dois atuais candidatos à Presidência revelam o estado do país neste momento », disse o luso-americano de 56 anos, a viver nos Estados Unidos há 11 anos.

« Nenhum destes candidatos me satisfaz a 100%, mas acho que há um que é menos mau neste momento, mesmo sendo aquele que eu menos gosto como pessoa: Donald Trump. Não gosto dele, não gosto da linguagem, nem da postura, mas penso que é a pessoa ideal para o país neste momento, devido às suas ideologias a nível económico e financeiro », acrescentou.

Para este antigo empresário de Cascais, que é hoje gerente de dezenas de lojas de uma grande empresa norte-americana, os « Estados Unidos precisam de uma pessoa com pulso e que consiga ganhar novamente o respeito a nível externo, e essa pessoa é Donald Trump ».

 « Pessoalmente, não acredito nas políticas da outra candidata, até porque ela teve no Governo nos últimos quatro anos e não vi nada de positivo ser feito », avaliou Ruy Raimundo, referindo-se à vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris.

Tendo em conta o seu contacto frequente com eleitores luso-americanos, o presidente do ‘Philadelphia Portuguese Club’ acredita que a comunidade portuguesa está dividida entre Donald Trump e Kamala Harris, embora admitindo que o tecido empresarial, especialmente no ramo da construção, irá votar no ex-presidente.

E essa visão foi corroborada precisamente pelo empresário do ramo da construção Jaime Costa, que indicou à Lusa que viu reduzir as suas « margens de lucro » e o volume de negócios durante o atual Governo e, por isso, votará em Donald Trump.

« O que mais me preocupa é a inflação, a economia. Desde que este Presidente [Joe Biden] chegou ao poder, o preço das coisas aumentou demasiado. Estragou tudo o que tinha sido deixado pelo antigo Presidente [Donald Trump]. Logo após o Biden ter tomado posse, o preço da gasolina disparou, assim como os preços dos materiais. Nunca poderei estar satisfeito com as mudanças que ele fez, porque prejudicaram muito o meu negócio », contou o empresário de 69 anos, natural de Leiria.

As eleições entram na reta final com Trump e Harris praticamente empatados nas sondagens em estados como a Carolina do Norte, Georgia e Pensilvânia, onde uma vitória fará a diferença em termos de votos do colégio eleitoral. Foi com vitórias neste estado que Trump conseguiu derrotar Hillary Clinton em 2016, apesar de a democrata ter sido a mais votada no total nacional.

Por outro lado, Susana Raimundo e Anabela Meirelles não conseguem entender como é que, « depois de tantos problemas com a justiça » e « com tantas polémicas acumuladas », Donald Trump continua a ter um apoio tão significativo do eleitorado.

Apesar de não estarem elegíveis para votar – Anabela Meirelles tem apenas autorização de trabalho e de residência nos Estados Unidos e Susana Raimundo conseguiu a cidadania há apenas uma semana, perdendo o prazo para registo eleitoral -, as duas lisboetas assumem o seu apoio a Kamala Harris, considerando que a candidata democrata « é uma mulher forte ».

« Gosto dela, em primeiro lugar, porque ela é mulher e porque defende muito mais os direitos das mulheres do que o Trump. Sou uma grande defensora dos direitos das mulheres e tenho uma neta. Por isso, a pensar no futuro dela, apoio a Kamala Harris e sou contra um novo Governo de Trump », defendeu Susana Raimundo, que discorda politicamente do marido, Ruy Raimundo.

« Infelizmente, com muita pena minha, não vou poder votar, mas vou manter a esperança de que a Kamala ganhe », afirmou a luso-americana de 61 anos.

Anabela Meirelles, de 65 anos, também « tem pena de não poder votar », admitindo que tem várias discussões familiares com quatro dos seus cinco filhos, por apoiarem Donald Trump.

« Tenho sete netos e estou preocupada com o futuro deles, assim como com os direitos das mulheres. Já sofri de violência doméstica e sei o quanto precisamos que alguém defenda os direitos das mulheres e é por isso que apoio a Kamala. Assusta-me a possibilidade de o Trump regressar ao poder e assustam-me os seus apoiantes », frisou Anabela.

Luis Casimiro, um ex-mecânico de 70 anos, já reformado, contou à Lusa que já votou antecipadamente em Kamala Harris, porque « não acreditar no bandido que é Donald Trump ».

« O que aquele bandido fez no Capitólio não se fez em lado nenhum. Não acredito nele », disse o eleitor, natural do Fundão, referindo-se ao episódio de 06 de janeiro de 2021, quando apoiantes de Trump invadiram o edifício do Congresso em Washington, DC para tentar travar a certificação da vitória de Joe Biden.

Casimiro, a viver nos Estados Unidos há 36 anos, lamentou ainda o « fanatismo » de alguns eleitores em torno de Donald Trump, que « estão prontos para alegar fraude eleitoral » em caso de derrota do magnata republicano.

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