Cerca de 80 pessoas voltaram a manifestar-se hoje no centro de Paris, « contra a alienação » da sucursal francesa da Caixa Geral de Depósitos (CGD), naquela que é a oitava semana de greve no banco público em França.
Esta é a quarta manifestação em duas semanas e a primeira de três protestos agendados para esta semana, tendo-se realizado na rua La Fayette, em frente à sede da Federação Bancária Francesa, entre apitos, músicas tradicionais portuguesas, bandeiras de Portugal e cartazes com as frases « A Caixa unida jamais será vendida » e « En grève » [« Em greve »].
« O slogan principal é ‘Não à alienação’. A alienação é o desaparecimento da Caixa em França. A Caixa é um banco de Estado, estamos a servir a comunidade portuguesa. Fora o medo pelo emprego, fora o afeto pelo nosso trabalho e pela nossa clientela, somos portugueses, e o que eles estão a fazer vai danifiar Portugal », afirmou à Lusa Manuela dos Santos, membro da comissão dos trabalhadores da sucursal francesa da CGD.
Manuela dos Santos explicou que o protesto em frente à Federação Bancária Francesa pretende « chamar a atenção das autoridades bancárias francesas », para uma « situação completamente anormal », e sublinhou que « a lei francesa prevê que as instituições representativas do pessoal têm de ser informadas sobre o projeto de reestruturação » e « essa lei não foi respeitada ».
Desde o início da greve, em 17 de abril, a intersindical FO-CFTC, que apoia a paralisação, e a comissão de negociação dos trabalhadores em greve, têm apontado como uma das principais reivindicações o acesso ao plano de reestruturação do banco público, visto que, em 2017, foi acordada com a Comissão Europeia a redução da operação do banco fora de Portugal (nomeadamente Espanha, França, África do Sul e Brasil) como contrapartida da recapitalização da CGD.
Entretanto, os membros da comissão de negociação dos trabalhadores em greve e os sindicatos que apoiam o movimento foram notificados para comparecer a uma audiência no Tribunal de Grande Instância de Paris, a 12 de junho, por alegado « delito do abuso do direito de greve », algo que para Manuela dos Santos é « um ataque à Constituição francesa e ao direito de greve ».
Em 12 de junho, a Justiça francesa também se deve pronunciar sobre « o pedido para que o plano de reestruturação seja entregue às instituições representativas do pessoal », uma ação que já tinha dado entrada junto no Tribunal de Grande Instância de Paris e que foi apresentada pela comissão de trabalhadores.
A continuação da greve, iniciada em 17 de abril, é votada quase diariamente na sede da CGD em Paris, onde o banco continua aberto, apesar de estar a funcionar com « serviços menos que mínimos », de acordo com Manuela dos Santos.
Há novas manifestações esta quinta-feira, no Consulado-Geral de Portugal, com a presença do deputado de Bloco de Esquerda Moisés Ferreira, membro das duas comissões parlamentares de inquérito à CGD, e esta sexta-feira junto à Embaixada de Portugal, no dia em que há uma receção de comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Na segunda-feira, a intersindical FO-CFTC enviou à Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa um « pedido de uma audiência urgente para apresentar a situação da Caixa Geral de Depósitos em França e as soluções que urge adotar ».
A greve na sucursal em França da Caixa Geral de Depósitos, que tem 48 agências e mais de 500 trabalhadores, foi apoiada pela intersindical francesa FO-CFTC, mas não foi seguida pelos sindicatos CGT e CFDT.
Em 10 de maio, o presidente executivo da CGD, Paulo Macedo, afirmou querer manter a operação da CGD em França e adiantou que está a negociar isso com as autoridades, apesar de ter sido também acordada a sua venda, mas acrescentou que isso só acontecerá se a « operação for sustentável, rentável e solidária » com os esforços feitos pelo banco. Na terça-feira, o gestor recusou comentar a continuação dos
Em 24 de maio, o Governo aprovou os cadernos de encargos com as condições para a venda dos bancos da CGD na África do Sul e em Espanha, segundo comunicado de Conselho de Ministros.
Alfa/Lusa