Papa repete no Sínodo apelo de Lisboa a Igreja aberta a « todos, todos, todos »

Foto. Papa Francisco - Rádio Alfa

O Papa Francisco repetiu hoje na abertura do Sínodo dos Bispos católicos a mensagem das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) de Lisboa, dizendo que a Igreja Católica deve ser um lugar de acolhimento para « todos, todos, todos ».

Na missa solene na Praça de São Pedro, que assinala o início da reunião magna dos bispos, Francisco disse que a Igreja deve evitar « cair em algumas tentações perigosas: a de ser rígida, uma alfândega, que se encolhe contra o mundo e olha para o passado; a de ser uma Igreja morna, que se rende às modas do mundo; a de ser uma Igreja cansada, fechada em si mesma ».

Na homilia, Francisco disse que essas ideias « preconcebidas » não têm lugar na reunião magna da Igreja, onde “todos, todos, todos” devem ser acolhidos.

« Jesus também nos convida a ser uma Igreja que acolhe » e « não de portas fechadas » porque, « numa época complexa como a atual, surgem novos desafios culturais e pastorais, que exigem uma atitude interior cordial e amiga, para poder enfrentá-los sem medo », considerou o Papa, dando exemplos: “Vem, tu que te perdeste ou que te sentes alienado; vem, tu que fechaste a porta à esperança, a Igreja está aqui para ti! A Igreja com a porta aberta a todos, a todos, a todos », acrescentou o Papa na sua homilia.

Para o Papa, o Sínodo serve para recordar que a Igreja “está sempre a precisar de purificação, de ser reparada”, porque reúne “um Povo de pecadores perdoados, sempre a precisar de voltar à fonte, que é Jesus”.

E perante “os receios” que surgiram antes do Sínodo, Francisco quis recordar que o encontro « não é uma reunião política, mas uma convocação no Espírito; não é um parlamento polarizado, mas um lugar de graça e de comunhão ».

“A principal tarefa do Sínodo” deve ser “voltar a colocar Deus no centro do nosso olhar, ser uma Igreja que vê a humanidade com misericórdia”, disse, defendendo uma estrutura “que tem Deus no centro e que, por isso, não cria divisões no interior, nem é dura no exterior”.

A reunião de três semanas à porta fechada que hoje tem início foi antecedida por críticas e avisos de riscos de divisão por parte de conservadores e expectativas dos movimentos progressistas católicos, que reclamam mais poder para leigos e mulheres na Igreja. O Sínodo não tomará quaisquer decisões vinculativas e é apenas a primeira sessão de um processo de dois anos.

Antes de começar, Francisco decidiu, pela primeira vez, permitir que mulheres e leigos (menos de um quarto dos 365 membros da assembleia) votassem ao lado dos religiosos em qualquer documento final produzido.

« É um momento decisivo », disse à Associated Press a leiga de origem indiana JoAnn Lopez, que ajudou a organizar dois anos de consultas antes da reunião nas paróquias onde trabalhou em Seattle e Toronto, sublinhando: “esta é a primeira vez que as mulheres têm uma voz qualitativamente diferente à mesa e a oportunidade de votar na tomada de decisões é enorme ».

Antes da abertura, ativistas colocaram uma faixa roxa gigante numa praça próxima, onde se lia « Ordenar Mulheres ».

O papel dos divorciados e novas estratégias para acolher os católicos LGBTQ+ são outros temas que os progressistas esperam ver debatidos no encontro.

Já os conservadores católicos manifestaram alguns receios. O cardeal norte-americano Raymond Burke criticou a importância do Sínodo para a reforma, considerando tratar-se de uma tentativa de transferir a autoridade e a decisão para longe da hierarquia, o que « arrisca a própria identidade da Igreja ».

“Infelizmente, é muito claro que a invocação do Espírito Santo por parte de alguns tem o objetivo de apresentar uma agenda que é mais política e humana do que eclesial e divina », disse Burke, numa conferência intitulada « A Babel Sinodal ».

Um grupo de cardeais conservadores desafiou formalmente Francisco a afirmar a posição da Igreja sobre a homossexualidade ou a ordenação de mulheres antes do Sínodo.

Numa troca de cartas tornada pública na segunda-feira, Francisco admitiu bênçãos para as uniões entre pessoas do mesmo sexo, desde que não sejam confundidas com o casamento sacramental.

 

 Com Agência Lusa.

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