É o segundo engenho humano (a Voyager 1 já lá chegou) a alcançar a região onde os ventos do nosso Sol esbarram com os ventos de outras estrelas. Ainda assim, as duas sondas da NASA continuam oficialmente – e vão continuar – no nosso sistema solar.
A sonda Voyager 2, lançada em 1977 numa missão concebida para durar apenas cinco anos, tornou-se o segundo objecto de fabrico humano a entrar no espaço interestelar, continuando assim a sua maratona espacial, anunciou esta segunda-feira a NASA. Desde que partiu da Terra, a Voyager 2 já viajou mais de 18.000 milhões de quilómetros.
Dados oriundos de instrumentos a bordo da sonda mostram que, a 5 de Novembro, a Voyager 2 atravessou a fronteira exterior da heliosfera – uma gigantesca bolha de partículas electricamente carregadas produzida pelo nosso Sol. Essa fronteira exterior atravessada pela intrépida sonda chama-se “heliopausa”, um local onde os ventos solares (a bolha de partículas electricamente carregadas produzidas pelo Sol) esbarram com os ventos de outras estrelas, gases e poeiras que impregnam a nossa galáxia, a Via Láctea.
“É novamente uma altura muito entusiasmante na viagem de 41 anos da Voyager 2, desde a exploração de planetas e agora da heliosfera e da entrada no espaço interestelar”, sublinhou Ed Stone, investigador envolvido no projecto da sonda do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos.
Em 1977, a Voyager 2 foi lançada no espaço 16 dias antes da sua irmã gémea, a Voyager 1, que atingiu o espaço interestelar em 2012. Um dos instrumentos da Voyager 2, o Plasma Science Experiment (PLS), ainda consegue fornecer observações sobre a natureza desta região do espaço. Quanto à Voyager 1, embora se mantenha forte na sua jornada pelo espaço interestelar, o seu PLS deixou de funcionar em 1980.
Concebidas para durar apenas cinco anos, as sondas Voyager destinaram-se especificamente ao estudo de Júpiter e Saturno, planetas gigantes gasosos. Recusando-se a morrer, as Voyager continuaram as suas explorações de Urano e Neptuno, os planetas gigantes gasosos mais exteriores do nosso sistema solar.
Ambas as sondas transportam um disco dourado que contém sons, imagens e saudações em diversas línguas, representando a diversidade da vida e da cultura na Terra e que se destina a comunicar com potenciais seres extraterrestres que possa encontrar esse objecto.
Embora tenham entrado no espaço interestelar, as Voyager ainda não saíram oficialmente do nosso sistema solar, cuja região mais extrema é a Nuvem de Oort, composta por numerosos cometas que ainda se encontram sob a influência da gravidade do Sol. Só daqui a 20 mil anos as duas sondas terminarão a sua passagem pela Nuvem de Oort, continuando a sua viagem pelo cosmos.
“Muitas vezes perguntam-me: ‘Então, acabou para as Voyagers? Já atravessaram a heliopausa. Está feito? Acabou? De modo nenhum. Para mim, é realmente o início de uma nova era da ciência heliofísica”, disse Nicola Fox, director da divisão de heliofísica na sede da NASA. “Temos a sorte de ter duas sentinelas muito bravas que abandonaram a nossa heliosfera e estão verdadeiramente a olhar para o outro lado da fronteira.”
Alfa/Jornal Público.