Alqueva irá voltar a cobrir gravuras com cinco mil anos

Arte rupestre nas margens do Guadiana, no concelho de Elvas | NUNO VEIGA / LUSA

Seca reduziu caudal do Guadiana, destapando painéis com as gravuras rupestres.

As gravuras rupestres do período Calcolítico encontradas por um antigo militar espanhol junto à ponte da Ajuda (em Elvas), nas margens do Guadiana, vão ficar no fundo da albufeira de Alqueva assim que a barragem voltar a encher até à cota máxima (152 metros), segundo admitiu o especialista em arte rupestre António Martinho Batista. O ex–diretor do Parque do Coa realiza por estes dias no local o levantamento arqueológico dos vestígios com cinco mil anos certificado pela Direção Regional de Cultura do Alentejo.

Neste momento é totalmente livre o acesso ao descampado onde foram descobertas as rochas com os desenhos – que se encontram próximas da estrada entre Elvas e Olivença – entre gado bovino que por ali se alimenta de pasto, como consequência da seca severa que reduziu drasticamente o caudal do Guadiana, destapando os painéis com as gravuras.

É a oportunidade, diz Martinho Batista, para estudar o sítio e documentar os painéis, com recurso a desenhos e fotografias das gravuras, devendo ainda proceder-se à topografia do sítio e georreferenciação, tal como foi feito em 2001 aquando das prospeções mais a sul do Guadiana, também dirigidas por este especialista, que antecederam o enchimento da grande barragem.

Aliás, Martinho Batista garante que as gravuras agora encontradas em Elvas – e que em 2001 escaparam às sondagens, possivelmente devido a estarem cobertas pelos sedimentos do rio – traduzem a continuidade dos cerca de 300 painéis encontrados na zona abrangida pelo regolfo da albufeira em concelhos como Alandroal, Reguengos ou Mourão. O especialista descreve as gravuras como « um tipo de arte muito esquematizada e muito abstrata », que designa por « arte esquemática peninsular », considerando duas das gravuras « muito bonitas », reportando-se, sobretudo a uma gravura serpentiforme bem conservada que tem atraído vários curiosos ao local.

Destaca Martinho Batista que ao longo do rio não faltam ainda exemplos de arte paleolítica, embora os painéis de Elvas sejam facilmente identificados com o Calcolítico. « É um tipo de arte rupestre muito semelhante à chamada arte megalítica que está no interior dos dólmenes », sublinha, destacando como o Guadiana era naquela época uma zona com elevadas densidades populacionais, levando em linha de conta os vestígios que têm sido encontrados e que permitem garantir ser este rio a « grande autoestrada da pré-história », assinala o arqueólogo.

Também por isso admite a possibilidade de aparecerem mais gravuras nos próximos tempos fruto da correnteza do rio e do regime de seca, alertando que o Guadiana exibe a particularidade de ter longas margens.

 

Alfa/DN

 

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