Cada vez mais migrantes escondem-se nos camiões portugueses em França

Camionistas têm ordens para dormir longe do Canal que separa França do Reino Unido.

 

Foto: Christian Hartmann/Reuters Nuno Guedes

 

« Como que por magia… » Ainda hoje Paulo Fonseca, motorista português que anda por França, não consegue perceber como é que seis migrantes (quatro adultos e duas crianças) se esconderam no camião que conduz.

O caso aconteceu-lhe há dias e não teve consequências pois a carga ficaria por França e não ia para o Reino Unido onde passar com um clandestino custa pelo menos três mil euros (por pessoa).

« Cheguei à loja onde ia descarregar e qual não é o meu espanto quando abro a porta, selada e sem qualquer sinal de ter sido violada, e me aparecem seis pessoas a sorrir e a pedir uma desculpa, acanhada, em francês… »

Os migrantes desapareceram e o diretor da loja assistiu a tudo, tendo ligado à polícia mas as autoridades nem quiseram ouvir o motorista português.

Em França os casos são comuns e os clandestinos já lá vivem pelo que, como explica a Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), é normal a reação pouco preocupada das polícias.

Apesar dos migrantes escondidos no camião, o cliente não rejeitou a carga o que tirou um peso de cima de Paulo Fonseca que sublinha que para « azar daqueles desgraçados, que vivem vidas terríveis, o camião não ia para Inglaterra », destino de sonho de muitos dos clandestinos que andam perto do Canal da Mancha à espera de uma oportunidade para sair de França.

Empresas falam em prejuízos graves

A ANTRAM destaca que são cada vez mais comuns este tipo de casos nos camiões portugueses, com uma ocorrência pelo menos semanal e graves prejuízos para empresas que perdem a carga e pagam multas se chegam a Inglaterra com clandestinos.

O presidente, Gustavo Cardoso, sublinha que o motorista desta história teve sorte pois teria consequências graves se fosse para o Reino Unido.

Outra associação representativa do setor, a Associação Nacional das Transportadoras Portuguesas está convencida que estes casos continuam a ser comuns mas não têm aumentado.

Márcio Lopes destaca, no entanto, que conhecem muitos casos e as consequências são muitas vezes graves: « Temos associados que perderam cargas completas pelo simples facto de terem dois ou três migrantes escondidos. Tiveram os veículos apreendidos, motoristas presos e imensos gastos para desmobilizar tudo », conclui.

 

Alfa/TSF

Article précédentHamilton vence em França e recupera liderança do Mundial
Article suivantCemitério português em França candidato a Património da UNESCO