Coletes amarelos. PR Macron fala ao país. É proibido desiludir

French President Emmanuel Macron speaks during a special address to the nation, his first public comments after four weeks of nationwide 'yellow vest' (gilet jaune) protests, on December 10, 2018, at the Elysee Palace, in Paris. (Photo by LUDOVIC MARIN / POOL / AFP)

Sob a pressão de uma dura crise social que dura há cinco meses, o Presidente Emmanuel Macron vai responder no início desta semana às reivindicações dos “coletes”, que já convocaram novas manifestações “nacionais” para Paris, no próximo sábado, dia 20. Franceses aguardam com expetativa a comunicação: Macron não pode falhar.

Foto GUILLAUME HORCAJUELO

Alfa/Expresso. Por Daniel Ribeiro

Os “coletes amarelos” voltaram a sair à rua, ontem, pelo 22º sábado consecutivo.

Quando ainda decorriam incidentes e confrontos duros nalguns locais – por exemplo na cidade de Toulouse duraram mais de seis horas – convocaram novas manifestações “nacionais” para o próximo sábado, designadamente para Paris.

Os líderes “amarelos” disseram não esperar “grande coisa” ou « esperar nada » da anunciada comunicação presidencial e, com a mobilização, mantêm o jovem chefe de Estado francês sob forte pressão.

Fechado no Palácio do Eliseu, Macron tem estado a consultar os seus apoiantes e ministros mais próximos e sabe que o seu futuro político está em jogo.

O exercício do Presidente será difícil porque o que os “coletes” pedem é exatamente o contrário do que o seu Governo tem feito até agora: aumento do poder de compra, diminuição dos impostos para os assalariados com rendimentos mais baixos, subida das pensões mais modestas dos reformados, supressão do IVA para os produtos de primeira necessidade, reposição do Imposto Sobre a Fortuna, democracia participativa com a introdução do Referendo de Iniciativa Cidadã, sistema eleitoral proporcional para as legislativas…

No fundo, o movimento social pede uma “revolução”, que foi precisamente o que Emmanuel Macron prometeu há mais de dois anos. Com efeito, “Revolução” foi precisamente o título do livro, com as suas promessas, que ele escreveu antes de se candidatar às presidenciais de 2017.

Ninguém sabe o que vai exatamente dizer o chefe de Estado porque tudo está a ser preparado no maior segredo.

Certo é que o fim da crise dos “coletes amarelos” depende das medidas que Macron anunciar. Se desiludir, o movimento poderá reforçar-se e radicalizar-se, tornando-se ainda mais incontrolável do que até agora. E o próprio quinquénio de Macron no Eliseu poderá ser colocado em perigo.

Depois da França ter vivido cinco meses de conflito e de o Governo e a Presidência terem “fechado” para participar no Grande Debate, o Presidente joga pessoalmente tudo porque, mais uma vez, tentará sair sozinho da crise.

A tradição da V República francesa é essa: é no chefe de Estado que repousa todo o Poder. Em dezembro, na altura em que a crise esteve quase a descambar em insurreição, foi também ele que assumiu solitariamente abrir os cordões à bolsa com concessões de cerca de 10 mil milhões de euros aos contestatários. Mas essas medidas não chegaram para travar um movimento que, apesar da violência, continua a ter forte apoio na população.

Com as contas da França no vermelho, Emmanuel Macron não poderá ser vago na sua comunicação. Bem pelo contrário: terá de anunciar, provavelmente amanhã ou depois, medidas concretas, com efeito imediato no bolso dos franceses.

Os “coletes” dizem que o Grande Debate foi uma “farsa” e, muitos, continuam a pedir eleições gerais antecipadas. Pedido que será renovado com mais força se o Presidente não for convincente.

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