Semáforos à entrada e dez metros quadrados por pessoa: Governo estuda regras de acesso às praias (e restaurantes só até às 23h)
Partidos foram discutir a pandemia e as medidas de desconfinamento mas acabaram a criticar a novela sobre a eventual saída em breve do Governo de Mário Centeno, incluindo o papel do primeiro-ministro e do presidente da República. Chega revelou limitação de horas para restaurantes
As restrições no acesso às praias não vão passar por uma lotação máxima ou obrigatória. Em vez disso haverá « uma média calculada de 10 metros quadrados por pessoa nas praias » e « uma espécie de semáforo ou uma indicação luminosa da lotação da praia », revelou André Silva, do PAN, após a reunião que teve esta quinta-feira com o primeiro-ministro.
À saída da ronda de encontros entre os partidos e o Governo, em São Bento, foram conhecidos mais alguns pormenores das medidas de desconfinamento que o Executivo vai adotar. André Ventura, do Chega, revelou que vai haver uma hora limite para o funcionamento dos restaurantes – o Governo está a pensar encerrar estes estabelecimentos, cuja lotação estará reduzida a metade, a partir das 23h.
CRÍTICAS A CENTENO DOMINARAM DECLARAÇÕES
A reunião servia para falar da pandemia e da fase de desconfinamento que Portugal atravessa mas o fantasma de Centeno não deixou de pairar em São Bento. Se quanto às medidas sanitárias não houve grandes discordâncias, o mesmo não se pôde dizer da ameaça de crise política que ocupou o Governo nos últimos dias. E aí a postura dos partidos, que não querem « salamizar » o Governo e até aconselham o presidente da República a não se deixar « arrastar » pelo conflito, foi crítica.
Por entre pedidos de « sensatez » nas regras de acesso às praias, Jerónimo de Sousa comentou o caso Centeno. « O PCP nunca defendeu o princípio de que a política se faz arrumando ministro a ministro. Há um coletivo, há um Governo e um primeiro-ministro que tem essa responsabilidade particular. Não temos essa visão de trabalhar à peça », respondeu o secretário-geral do partido, resumindo assim a sua posição sobre o caso: « Não peçam ao PCP para ir salamizando o Governo porque a responsabilidade é do Governo no seu conjunto ».
As responsabilidades a assumir pelo conflito foram, aliás, alvo de constante análise à saída dos encontros. Francisco Rodrigues dos Santos, do CDS, aproveitou o momento para deixar avisos a Marcelo mas também para se demarcar de Rio, que sugeriu a demissão do ministro: por um lado, « o Presidente da República deve assegurar o regular funcionamento das instituições, não lhe cabendo coordenar a ação do Governo »; por outro, assegurou que o CDS « não fará um frete de pedir a cabeça do ministro das Finanças, sob pena de nos estarmos a substituir ao Governo ».
« A avaliar pelos rasgados elogios que o primeiro-ministro teceu ao ministro das Finanças nos últimos quatro anos, nenhum português diria que seria difícil manter um relacionamento salubre com o Ronaldo das finanças », observou o líder centrista.
RIO ALERTA PARA SEGUNDA VAGA
Rui Rio tinha, aliás, sido dos mais ferozes críticos da atuação do Governo neste caso. Mas à porta do primeiro-ministro considerou que seria « deselegante » comentar o problema em casa alheia e remeteu para o que já tinha escrito no Twitter: Centeno continua no Governo… sem ter condições para continuar.
Mas o líder social-democrata também aproveitou para deixar alertas no que toca à hipótese de uma segunda vaga – e à preparação que ela exigirá: « Se isso acontecer, não podemos encerrar a sociedade e a economia da mesma forma como foi encerrada em março e abril porque a economia pura e simplesmente não aguenta. Por isso, no mês de junho temos de aprender como fazer no caso de termos uma segunda onda, em que temos de fechar alguma coisa mas não podemos fechar tudo ».
PAN ATACA GOVERNO E MARCELO, BE PREOCUPADO COM A POBREZA
No Bloco de Esquerda, Catarina Martins considerou que o compromisso de Mário Centeno será preparar o orçamento suplementar – mais do que isso é preciso perguntar ao Governo – e aproveitou para defender a importância de um programa nacional « forte e coerente » contra a pobreza, além de um alargamento dos apoios aos pais que optam por não colocar já os filhos nas creches.
André Silva, do PAN, não poupou ninguém: as críticas que teceu no final da sua reunião com António Costa foram dirigidas tanto ao Governo como ao primeiro-ministro – e acabou a recordar que o PAN rejeita a possibilidade de Centeno passar do lugar de ministro das Finanças para o de governador do Banco de Portugal. Questionado sobre se responsabiliza o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, e se entende que o ministro das Finanças agiu bem, André Silva respondeu: « Independentemente das razões que existam ou não, esta é uma crise que foi alimentada em grande parte pelo senhor Presidente da República quando, de facto, a situação interna no Governo estaria a ser resolvida. E, de facto, o senhor Presidente da República não esteve bem, como não esteve o Governo ».