Irão reconhece que derrubou avião ucraniano por engano

Teerão pede desculpa mas responsabiliza americanos pela tragédia

ABEDIN TAHERKENAREH/EPA

Regime reconhece abate involuntário, devido a erro humano, do avião onde viajavam 167 pessoas, nenhuma das quais sobreviveu. Incidente aconteceu quarta-feira, dia em que o Irão retaliou pelo assassínio do general Qassem Soleimani. Teerão pede desculpa mas responsabiliza americanos pela tragédia

Alfa/Expresso. Por Pedro Cordeiro (Leia versão original em expresso.pt)

Oavião ucraniano que caiu em Teerão na madrugada de quarta-feira foi abatido “involuntariamente” pelas forças armadas do Irão, admitiu este sábado o Presidente do país, que refere um “erro desastroso”. Hassan Rouhani escreveu na rede social Twitter que a investigação interna levada a cabo pelos militares iranianos concluiu que “mísseis disparados devido a erro humano causaram o horroroso desastre do avião ucraniano e a morte de 176 pessoas inocentes”.

Rouhani – cujas palavras fazem eco de um comunicado militar divulgado na televisão pública iraniana – promete que as averiguações continuarão e que os responsáveis serão acusados. As forças armadas esclarecem que tal sucederá “num departamento judicial próprio”, isto é, interno dos militares. A confissão surge após dias de negação de qualquer envolvimento da República Islâmica na queda do voo PS752, uma rota comercial com destino à capital ucraniana, Kiev, que se despenhou minutos após a descolagem.

A tragédia aconteceu no dia em que Teerão atacou bases militares no Iraque que albergam militares americanos, em retaliação pelo assassínio, dia 3 em Bagdade, do general Qassem Soleimani. O Boeing 737 da Ukrainian International Airlines terá sido confundido com alvo inimigo ao fazer uma curva na direção de um centro militar da Guarda Revolucionária, a poderosa força iraniana de que Soleimani era importante dirigente.

O Presidente da Ucrânia exigiu desculpas oficiais, investigação cabal com participação de peritos ucranianos e uma indemnização. “Os nossos 45 profisionais devem ter pleno acesso e cooperação para fazer justiça”, reclamou Volodymyr Zelenskiy. “Esperamos do Irão garantias de aceitação de uma investigação plena e aberta, que os responsáveis sejam levados perante a justiça, que os corpos dos falecidos sejam devolvidos , pagamento de indemnização e desculpas oficiais através dos canais diplomáticos.”

“É um dia triste”, assumiu o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif. Ainda assim responsabiliza Washington pelo sucedido. “Um erro humano em tempo de crise causada pelo aventureirismo dos Estados Unidos conduziu ao desastre”. As forças armadas iranianas prometeram melhorar os seus sistemas para evitar uma repetição do sucedido.

NEGAÇÃO DUROU TRÊS DIAS

Esta confissão contraria tudo o que Teerão dissera até à data. O regime aceitou a entrada de investigadores internacionais e forneceu as caixas negas do avião, mas sexta-feira o líder da agência de aviação iraniana afirmou que não houvera mísseis envolvidos no desastre, apontando antes para falha técnica.

Das 176 vítimas, pelo menos 57 tinham nacionalidade canadiana, 82 eram iranianos, 11 ucranianos e três britânicos. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, foi dos primeiros a afirmar ter indícios de que o avião fora derrubado por projéteis iranianos.

A agência de aviação iraniana afirmou que o aparelho não tentou qualquer contacto via rádio, embora tivesse tentado voltar ao aeroporto de Teerão. Houve controvérsia devido à rápida remoção dos destroços, que sugeria uma tentativa de eliminação de provas.

 

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