
O Secretário-Geral do Partido Socialista, José Luís Carneiro, esteve em Paris esta terça-feira, 23 de setembro. Oficialmente, a viagem tinha como objetivo « ouvir e dar voz à comunidade portuguesa em França ». Na prática, tratou‑se de uma sucessão de encontros institucionais e políticos, culminando numa sessão pública na Académie du Climat, no coração da capital francesa.
A visita foi organizada pela Secção do PS em Paris e por Paulo Pisco, ex-deputado eleito pelo círculo da Europa e agora Adjunto do Secretário-Geral para as Comunidades portuguesas. Entre visitas oficiais e reuniões com empresários, representantes do associativismo e militantes socialistas, destacou‑se o encontro com Olivier Faure, primeiro‑secretário do PS francês. Segundo informações do LusoJornal, ambos os dirigentes concordaram em avançar com uma agenda comum centrada nas prioridades políticas europeias e na afirmação do socialismo no Sul da Europa. A jornada de José Luís Carneiro terminou com um jantar na residência oficial do embaixador de Portugal em França, Francisco Ribeiro de Menezes.
Foi na Académie du Climat, perante menos de uma centena de pessoas, que José Luís Carneiro respondeu diretamente às perguntas da « comunidade » (na realidade, uma maioria esmagadora de simpatizantes e militantes socialistas). O encontro, cuidadosamente orquestrado por António Oliveira da Secção do PS em Paris, transformou-se num desfile de perguntas e intervenções muitas vezes monopolizadas pelos mesmos participantes. José Luís Carneiro respondeu de forma longa – talvez demasiada ? – e detalhada a cada intervenção.

O tema do voto eletrónico para os Portugueses no estrangeiro gerou uma das discussões mais intensas da noite. José Luís Carneiro mostrou-se frontalmente contra: “Eu não defendo o voto eletrónico. A questão está na segurança do sistema”, declarou. A posição do secretário-geral foi de imediato contestada por Emília Ribeiro, candidata do PS pelo círculo da Europa nas últimas legislativas, que defendeu o contrário: “Essa questão do voto eletrónico comprometeu muito o PS nas últimas eleições…” Surgiu também a proposta de introduzir o voto por procuração, mas José Luís Carneiro rejeitou‑a, alegando que “levanta problemas em casos de demência”. O Secretário‑Geral recusou assim todas as propostas apresentadas.
Outro ponto sensível prendeu-se com a representação parlamentar da diáspora portuguesa. João Martins Pereira, presidente dos Jovens Socialistas Europeus e membro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), considerou insuficiente o atual número de deputados eleitos pelo círculo da Europa (dois) e defendeu o reforço da representatividade. José Luís Carneiro concordou… mas só em teoria. A prioridade, disse, devia ser para as comunidades portuguesas fora da Europa. Mais uma divergência.
Ao longo da noite, houve ainda várias referências elogiosas a Miguel Costa, antigo adido cultural do Consulado-geral de Portugal em Paris, lembrado com carinho por vários militantes que tomaram a palavra. O papel dos simpatizantes e a necessidade de maior estímulo às iniciativas da juventude também estiveram em cima da mesa. Do fundo da sala, uma militante afirmou: “É preciso estimular iniciativas, e a nossa juventude!” E justamente, a este debate juntavam-se discretamente o artista de rua Glaçon e o professor universitário Bruno António: duas jovens personalidades bem envolvidas no PS.
O líder socialista manteve-se em pé, estoico, enquanto Paulo Pisco sentado, de seguida levantou-se para finalizar o encontro. « O PS é o grande partido do desenvolvimento português », disse. Salientou que « é preciso conceber uma estratégia para que os Portugueses do estrangeiro sejam tratados como os Portugueses de Portugal ». Enfim, o ex-deputado deixou uma deixa sobre o CHEGA: « Há dois anos que eles só falam de imigração, nada mais… A ignorancia transforma-se sempre em raiva e revolta ».

Também se ouviram críticas discretas: vários presentes disseram que José Luís Carneiro dedicou demasiado tempo ao almoço com os empresários (no restaurante Pedra Alta em Paris, em que estiveram presentes alguns empresários como Mapril Batista, Mário Martins, Carlos e Antónia Gonçalves, Fernando Lopes, José Oliveira, José Correia…) e não o suficiente aos militantes, queixando-se de que a sessão aberta foi curta.
Resumindo e concluindo, a visita a Paris de José Luís Carneiro permitiu reforçar alguns laços institucionais e proporcionar encontros valiosos com certeza, mas expôs muitas divergências internas. E ainda não sei bem se a « comunidade » passou a conhecê-lo melhor…
Didier Caramalho
