
A candidata socialista pelo círculo da Europa, Emilia Ribeiro, apresentou oficialmente a sua candidatura esta quarta-feira, num comício marcado pela presença de figuras do PS e pelo entusiasmo da comunidade portuguesa em Paris.
O evento teve lugar no Théâtre La Boussole, situado em frente da Gare du Nord (Paris 10), e reuniu cerca de uma centena de pessoas, entre membros da comunidade portuguesa, simpatizantes do Partido Socialista e representantes institucionais. A noite foi organizada e conduzida pelo muito popular Bruno António, professor universitário, responsável da campanha pela França da Emilia Ribeiro e ex-colaborador de Paulo Pisco, antigo deputado socialista pelo círculo da Europa.
Na abertura da noite, Bruno António sublinhou a importância da diáspora e, em particular, dos jovens lusodescendentes: “é necessário valorizar os lusodescendentes” afirmou, antes de evocar a sua própria história familiar com emoção: “Tenho orgulho na história da minha mãe, porteira em Paris.” Num discurso marcado por uma forte dimensão identitária, destacou ainda que “ser português é pertencer a várias histórias”, defendendo a ideia de um Portugal aberto ao mundo: “Portugal é uma pátria cosmopolita.” Bruno António insistiu também na necessidade de reconhecer o trabalho discreto, mas essencial, da comunidade no terreno: “A importância das pequenas mãos” disse, antes de acrescentar: “Nós, no PS, valorizamos as pessoas, levamos a sério as pessoas.” Aproveitou ainda para apresentar os nomes que compõem a lista eleitoral ao lado de Emilia Ribeiro, sublinhando a diversidade de experiências dos seus membros: Ana Maria Pica, Tiago Corrais e Carlos Pereira.

Após a introdução eficaz de Bruno António, foi a vez de António Oliveira, secretário do Partido Socialista português na região Île-de-France, tomar a palavra, destacando o seu apoio à candidatura de Emilia Ribeiro. Num discurso centrado na igualdade e na justiça social, sublinhou: “A Emilia Ribeiro é uma mulher, e o PS é um partido progressista — tem de dar o exemplo. A Emilia é uma mulher e é um exemplo. O PS tem de lutar contra as desigualdades entre homens e mulheres.” Insistiu também na proximidade da candidata com a realidade da emigração: “Queremos pessoas que vão defender os nossos interesses. Nós é que estamos fora de Portugal, nós é que sabemos o que queremos.” Reforçou ainda com um apelo direto: “Temos de ter uma pessoa de fora para nos representar. Nós queremos pessoas disponíveis, connosco, no meio de nós.”

Em seguida, Marta Temido, eurodeputada e ex-ministra da Saúde, subiu ao púlpito. Sublinhou a relevância de uma representação forte e consistente dos portugueses no estrangeiro, reforçando o compromisso do PS com os desafios da emigração. Contudo, um pequeno lapsus de Marta Temido marcou o início da sua intervenção: ela chamou a cabeça de lista Emilia Ribeiro por “Emilia Rodrigues”; um erro que, embora tenha sido rapidamente corrigido, provocou alguns risos na assistência. Um deslize notável sobretudo tendo em conta que a candidata, ainda não muito conhecida, procura afirmar-se na cena política.
Durante o seu discurso, que se revelou factualmente extenso e retirou tempo precioso à candidata, Marta Temido fez questão de destacar a importância da mobilização comunitária: “É preciso envolver os atores da comunidade.” Alertou para o afastamento crescente entre os portugueses da diáspora e as estruturas políticas: “Temos andado afastados uns dos outros, mas não pode ser. Precisamos de todos.” Referiu também que “a nossa lista é progressista, de futuro, e honra o PS.” Enfim, num registo mais pessoal, refletiu sobre a sua própria experiência como emigrante: “Hoje compreendo melhor o que é viver na diáspora. Estou há meia dúzia de meses em Bruxelas, compreendo melhor o que é estar longe num dia em que gostaríamos de estar em Portugal, estar longe e ter saudades do que é o nosso e dos nossos.”

Chegou depois a hora da cabeça de lista. Emilia Ribeiro, que tinha apenas uma janela de tempo apertada de dez minutos, foi, no final, aquela que menos falou, o que contrastou com a maior duração das outras duas intervenções. Emilia Ribeiro fez um discurso breve mas incisivo, destacando a necessidade urgente de políticas mais eficazes para as comunidades emigrantes. O início do seu discurso não passou despercebido: Emilia Ribeiro fez um pouco « efeito lista », mencionando de forma detalhada todos os seus cargos e experiências passadas, o que acabou por criar uma impressão formal e distante, contrastando com o tom mais envolvente do evento. “Eu sou imigrante portuguesa em França desde 1972, sou mãe e sou avô. (…) Faço parte do conselho administrativo de várias associações. (…) Fui tesoureira da CCPF, uma associação muito conhecida em França. (…) Fui presidente de associações. (…) Fui empregada durante 42 anos numa empresa financeira de dimensão mundial. (…) Sou actualmente vice-presidente da autarquia des Ulis…” começou então a candidata, antes de se recentrar nas questões mais urgentes que afetam as comunidades portuguesas. A candidata abordou nomeadamente o Programa Regressar para os reformados portugueses, e a necessidade de encontrar uma fórmula justa e equilibrada para os Portugueses que querem mudar a residência fiscal para Portugal.
Emilia Ribeiro aproveitou também para destacar a ausência de candidatos lusodescendentes do lado da Alliança Democrática: “A AD não tem candidatos emigrantes, como nós!” afirmou, reforçando a importância de ter vozes de emigrantes representadas no Parlamento português, uma vez que, segundo a candidata, são essas vozes que melhor compreendem as necessidades e desafios da comunidade portuguesa no estrangeiro.
A candidatura de Emilia Ribeiro recebeu o apoio público de figuras de peso do PS. Como já referimos: Marta Temido, eurodeputada e ex-ministra da Saúde, também António Oliveira, secretário do Partido Socialista português na região Île-de-France. Entre os convidados, destacou-se ainda a presença de Pedro Rupio, membro da secção do PS em Bruxelas e ex-conselheiro das comunidades portuguesas, e Romain Eskenazi, deputado francês PS do Val d’Oise.
Um dos momentos marcantes da noite foi a exibição de um vídeo promocional que contou com a participação do jovem artista de rua Glaçon.
A produção incluiu também a contribuição de várias figuras do mundo associativo e social, como Suzette Fernandes, Olinda Mendes, Matias Isodoro Silva, Judite Simões e Altina Ribeiro, todos reforçando a mensagem de união e ação em torno da candidatura de Emilia Ribeiro. A noite terminou com uma mensagem especial vinda do secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos, através de um vídeo gravado, onde ele expressou total apoio à candidatura de Emilia Ribeiro. No entanto, um detalhe curioso não passou despercebido: Pedro Nuno Santos apareceu na gravação com… uma gravata azul. Algo considerado como um escolha estranha para uma figura de esquerda, suscitando alguns comentários na assistência!

Para concluir esta comício, o público presente no teatro entoou, com entusiasmo, a Portuguesa. Este momento tradicional de união foi seguido pela apresentação da canção oficial da campanha do PS para as legislativas anticipadas. “O futuro é já”, encerrou então a noite com um forte apelo à mobilização.
Com este comício, Emilia Ribeiro e a sua equipa entram na reta final rumo às eleições legislativas anticipadas, marcadas para o dia 18 de maio. A mobilização da comunidade portuguesa será sem dúvida determinante para o desfecho de um sufrágio que promete ser apertado.
Didier Caramalho
