Paulo Pisco, a esperança do Partido Socialista na Europa

Paulo Pisco, deputado e cabeça de lista PS pelo círculo da Europa
Paulo Pisco, deputado e cabeça de lista PS pelo círculo da Europa ® António Borga

A apresentação dos candidatos do Partido Socialista pelo círculo da Europa ocorreu esta quinta-feira 15 na sede da Federação do PS de Paris, Place du Colonel Fabien no décimo bairro da capital. Contou com as participações de Paulo Pisco, Nathalie de Oliveira, Alfredo Stoffel, Joana Benzinho e Francisco André, secretário internacional do PS. O mote da noite: mais ação!

Meia centena de militantes estavam reunidos, ao final da tarde de quinta-feira, na sede da Federação do PS de Paris, para ouvir e aplaudir os quatro membros da lista do PS no círculo da Europa bem como o secretário internacional do partido. Um evento com apresentação de António Oliveira, Secretário Coordenador do PS português de Paris. Na lista encabeçada por Paulo Pisco, aprovada em Comissão Política Nacional no passado mês de janeiro, estão presentes também Nathalie de Oliveira (deputada franco portuguesa desde 2022), Alfredo Stoffel da Alemanha, « um homem da velha escola política » segundo as palavras do cabeça de lista e Joana Benzinho da Bélgica. Todos discursaram, numa noite dividida entre autocongratulações e críticas à direita e extrema-direita.

Paulo Pisco respondeu às perguntas da Rádio Alfa, antes de começar o comício:

 

Antes de Paulo Pisco subir ao púlpito, falaram os outros candidatos. Joana Benzinho abriu o baile: a luso belga disse defender « o projeto mais válido, o trabalho mais positivo » dessas eleições legislativas. Seguiu-se a intervenção de Alfredo Stoffel que insistiu primeiro na importância de apelar os Portugueses a irem votar. « Nós, nas comunidades, temos muito a mania de dizermos que não contamos », lamentou. O luso alemão levantou ainda a questão do ensino do português no estrangeiro: « que tipo de ensino queremos para os nossos filhos? » Defendeu claramente as iniciativas do PS.

Nathalie de Oliveira, deputada e candidata da lista PS pelo círculo da Europa
Nathalie de Oliveira, deputada e candidata da lista PS pelo círculo da Europa ® António Borga

Antes de Nathalie de Oliveira discursar, as luzes da sala apagaram-se e difundiu-se um video de campanha – que contou com o apoio de Luís Gonçalves, Presidente cessante da Academia do Bacalhau, Nelson Costa, ex-Presidente de uma associação portuguesa em Champigny-sur-Marne, Mathias Isidoro Silva, Presidente da associação Portugal do Norte ao Sul de Saint Brice-sous-Forêt, Rafael Baptista de Matos, filho do falecido dirigente associativo de Fontenay-sous-Bois José Baptista de Matos, e a escritora Altina Ribeiro. « Um filme que me deixou comovida » começou por dizer Nathalie de Oliveira, de microfone na mão. A eleita que apoiou Pedro Nuno Santos (ao contrário de Paulo Pisco) salientou que « a causa dos Portugueses de Europa é a causa política » da sua vida. Filha de pai que veio « à pé » para França, ser deputada na Assembleia da República é um orgulho que ela gostava de repetir. Nathalie de Oliveira, entre dois sorrisos para as câmaras presentes, relembrou a necessidade das associações portuguesas em França: elas « fazem muito por os Portugueses e apoiam o PS ». Acabou as suas declarações com ares de uma candidata à presidência: « Vamos vencer! Viva o PS! Viva Portugal! »

« A sociedade portuguesa esquece-se às vezes da dívida enorme que tem aos Portugueses de lá fora »

Chegou a hora do cabeça de lista. Paulo Pisco insistiu para falar sem microfone. Ele deu-se ao desafio de cativar a assembleia reunida, só com a sua voz: missão bem-sucedida. Com uma particular confiança, Paulo Pisco fez um discurso de quase uma hora.

O deputado do PS pela Europa agradeceu primeiro aos militantes presentes: « os Portugueses que aqui estão, não desistiram e ainda acreditam na política, nós precisamos de vocês ». Agradeceu depois a presença da comunicação social (acabando por citar a Rádio Alfa).

Paulo Pisco defendeu com unhas e dentes o balanço do Partido Socialista desde 2015, falando por exemplo do aumento do salário mínimo em Portugal, e pontuando ocasionalmente com « merecemos [ganhar] por o trabalho que fizemos […] embora haja sempre muita coisa para fazer ». Relembrou rapidamente e de forma clara os seus três pilares de ação: o atendimento consular, o ensino do português no estrangeiro e o movimento associativo. Paulo Pisco insistiu na importância de ir ao encontro dos jovens e apelou ao orgulho de ser Português: « Nós, Portugueses, estamos em todo lado, estamos em 186 países dos 193 que existem nas Nações Unidas ».

Nathalie de Oliveira, Alfredo Stoffel, Joana Benzinho e Francisco André a ouvir Paulo Pisco
Alfredo Stoffel, Joana Benzinho, Nathalie de Oliveira e Francisco André a ouvir Paulo Pisco ® António Borga

Aos membros do PS francês presentes – nomeadamente Rémi Féraud, senador PS de Paris – Paulo Pisco endereçou umas palavras de camaradagem, num francês perfeito: « même si le Parti Socialiste français est en difficulté aujourd’hui, nos valeurs demeurent éternelles et il nous faut toujours lutter pour ramener à nos démocraties les valeurs du PS ». Voltando ao português, Paulo Pisco não poupou nas palavras e deu mote de motivação para todos os militantes reunidos. « Nós pretendemos transformar Portugal: a política só vale a pena se é para mudar a vida das pessoas », salientou.

« A França, apesar das ligações históricas com Portugal, é o país que mais expulsa Portugueses »

Paulo Pisco atacou vivamente a extrema direita e, evocando-o uma só vez, o partido CHEGA de André Ventura. « Estas eleições também são um combate pela democracia, pelos valores de abril », insistiu o candidato a sua própria reeleição, « a extrema-direita é um perigo para a Europa e para as democracias ». « Como é possível ter tanta desumanidade perante os estrangeiros? » questionou retoricamente Paulo Pisco.

O candidato relembrou que a extrema-direita, fundamentalmente, é contra os direitos dos estrangeiros e contra « a herança socialista da tolerância ». Em Portugal, essa ideologia política é incarnada pelo Chega de André Ventura. « O Chega manipula e engana de maneira escandalosa os Portugueses », afirmou somente o deputado PS. Numa breve digressão europeia pelas palavras, Paulo Pisco apontou depois para o Fratelli d’Italia de Giorgia Meloni, para a subida do partido AfD alemão, mas também para cá: « nenhuma sociedade democrática pode aceitar a lei imigração » do ministro Gérald Darmanin. Paulo Pisco abordou com firmeza um aspeto habitualmente pouco evidenciado: « a França, apesar das ligações históricas entre os dois países, é o país que mais expulsa Portugueses ». Questionado depois pela Rádio Alfa, o candidato insistiu: « isso vem no relatório da Administração Interna que todos os anos é produzido a nível da Administração Interna, e portanto são os últimos dados: a França é atualmente dos países que mais está a expulsar Portugueses ». Até agora, a Rádio Alfa não teve acesso a esse documento.

Video de apoio de Emmanuel Demarcy-Mota, encenador e diretor do Théâtre de la Ville:

« Mas qual é a moral que Carlos Gonçalves nos pode fazer? »

Paulo Pisco não deixou de evocar o seu mais perigoso adversário a estas eleições legislativas. De facto, Carlos Gonçalves é cabeça de lista pela Aliança Democrática que está à frente do Partido Socialista nas intenções de voto. Recorde-se que segundo a última sondagem da Intercampus para o Jornal de Negócios e Correio da Manhã, divulgada esta quarta-feira 14 de fevereiro, a AD (24,3%) surge na liderança das intenções de voto, superando o PS (22,4%). Segundo essa mesma sondagem, a coligação da direita aumenta 3,5% enquanto os socialistas perdem 4%.

Paulo Pisco não podia então deixar de evocar o nome de Carlos Gonçalves. Mas no seu discurso, o candidato PS disse querer responder à uma frase do candidato AD: « Carlos Gonçalves teve o desaire de dizer que os deputados PS na Assembleia da República não fizeram nada… é de uma falta de pudor enorme! » Sem querer entrar em polémicas porque « não vale tudo em política, isto não é uma selva », Paulo Pisco deixou a sua resposta à Carlos Gonçalves. Citando o caso de um ex-deputado PSD que tinha acabado por deixar o partido social-democrata uma vez que « desprezava as comunidades portuguesas do estrangeiro », Paulo Pisco colocou esta pergunta fatal: « Mas qual é a moral que Carlos Gonçalves nos vem fazer? Um pouco de decência e de ética não lhe fazia nada mal porque é disso que precisamos na política ».

Meia centena de militantes estavam reunidos na sede da Federação do PS de Paris ® António Borga

Através a figura do Carlos Gonçalves, foi o PSD todo que foi alvo de críticas. O atendimento consular sempre foi modernizado graças ao PS, « o PSD nunca fez nada » salientou Paulo Pisco. O cabeça da lista PS pelo círculo da Europa finalizou ao dizer que « o Partido Socialista considera as comunidades e considera a sua diaspora » e pediu « humildemente uma ajuda com o voto ».

Paulo Pisco contou com o apoio de membros influentes da comunidade portuguesa em França. Estavam presentes personalidades como José Brito, Presidente da associação ARCOP de Nanterre, Lurdes Fernandes, Maire-adjointe LR em Paris 17 ou ainda Emília Ribeiro, Maire-adjointe em Les Ulis. Vários presidentes de associações da CCPF, membros do Consulado Geral de Portugal em Paris ou ainda da Caixa Geral de Depósitos marcaram presença.

« Il est important de s’entraider entre socialistes européens, il est important de construire l’Europe ensemble »

O senador PS de Paris, Rémi Féraud, estava presente e também falou. Pedindo desculpas de forma humorística por ainda não falar português, o eleito parisiense afirmou a solidariedade do PS francês para com o PS português. « Nous, socialistes français, sommes admiratifs des victoires de la gauche socialiste au Portugal », disse. Neste ano em que Portugal festeja os 50 anos da Revolução dos Cravos, o senador achou « émouvant accueillir le PS portugais » na sede da Federação do PS de Paris, Place du Colonel Fabien no décimo bairro da capital – frente à sede do Partido Comunista francês.

Paulo Pisco e Francisco André ® António Borga
Paulo Pisco e Francisco André ® António Borga

A representar Lisboa – na falta de Pedro Nuno Santos, impedido pelos debates televisivos de marcar presença em Paris – estava « um modelo de virtudes e humanismo » para Paulo Pisco: Francisco André. O Secretario Internacional do Partido Socialista e também Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação no atual Governo lembrou a íntima relação que une o PS francês ao PS português, a amizade que liga António Costa e Fernando Medina à Anne Hidalgo. Neste seu regresso à Paris, cidade onde viveu antes de começar a sua carreira política, Francisco André martelou a ideia de que Portugal estava bem pior há oito anos, antes do PS ter chegado ao poder. O homem político reconheceu também o valor da comunidade portuguesa em França: « as comunidades são a nossa linha da frente; muitas das grandes empresas que nascem hoje em Portugal, nascem graças ao investimento dos empresários portugueses em França ». Finalizou de forma sentenciosa. Segundo ele, dia 10 de março, só há um caminho: « um para trás, outro para frente; e o único que consegue ir para frente é o PS ».

Depois de tudo ter acabado com a Portuguesa a soar, a noite prolongou-se com uns petiscos fornecidos pela Pastelaria Belém da Natália Martins. O companheirismo ambiente ajudou a soltar línguas. Alguns militantes confiaram seus medos e suas dúvidas à Rádio Alfa: « as pessoas tentadas pelo Chega são incompreensíveis… estamos a falar de um partido extremista e racista », « votar no Chega, não é solução », « nós que já vivemos em bairros de lata, nós que viemos à salto para França, nós, estrangeiros num país estrangeiro, como podemos votar no Chega? »

Ainda haja quem tem temor ao extremismo.

Didier Caramalho

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