Emmanuel anunciou igualmente medidas favoráveis aos reformados que recebem pensões até 2 mil euros, a suspensão das taxas sobre as horas de trabalho extraordinário e um “prémio de fim de ano” para os trabalhadores das empresas que o podem pagar.
No que respeita ao imposto sobre as grandes fortunas, reclamado pelos “coletes”, não cedeu, bem como nas reformas políticas, nomeadamente a introdução do sistema proporcional nas eleições legislativas francesas.
Na sua comunicação ao país, que era muito aguardada, não há também o anúncio de uma remodelação governamental, que alguns analistas tinham previsto.
O aumento de 100 euros do salário mínimo será sem encargos para os patrões e terá efeito já em 2019. Macron justificou as medidas sociais numa comunicação gravada esta segunda-feira de tarde no Palácio do Eliseu porque o país se encontra num “estado de emergência económica e social”.
Em primeira análise, trata-se de uma viragem à esquerda do chamado “Presidente dos ricos”, considerado demasiado altaneiro e arrogante, que até pediu desculpa aos franceses por “ter ferido alguns” com algumas suas declarações durante os seus 18 meses de mandato.
É de realçar que não há qualquer medida política anunciada esta segunda-feira pelo Presidente, que pela primeira vez e certamente devido à pressão do extraordinário e inédito movimento dos “coletes amarelos”, parece ter decidido ser mais concreto e humano do que nunca.
Emmanuel Macron parece ter desejado atingir diversas categorias dos franceses que se têm manifestado desde há um mês em França e que, apesar da violência dos “casseurs”, contam com o apoio de mais de dois terços da população. A certa altura da sua comunicação chegou a dizer que os protestos revelam uma “cólera justa”.
Condenou no entanto a violência e prometeu castigar os que cometem atos de “desordem e anarquia”.
No que respeita às reações, a generalidade dos representantes dos “coletes amarelos” disse que se tratou de um “primeiro passo” do Presidente.
Este movimento, nascido na internet sem líderes nem ideologia, continuava nesta segunda-feira à noite a bloquear estradas um pouco por toda a França. Alguns dos manifestantes disseram esta noite que o movimento vai continuar e alguns sublinhavam que o Presidente não respondeu, designadamente, à sua reivindicação de referendos de iniciativa popular nem à introdução do sistema proporcional nas legislativas, nem à reposição do ISF.
No campo político, Marine le Pen, chefe dos nacionalistas e populistas franceses, afirmou que “Macron recua para melhor saltar”. “Perante a contestação, renuncia às suas divagações fiscais, é bom, mas recusa admitir que é o seu modelo de globalização selvagem ultraliberal que é contestado”, declarou.
Benoît Hamon, candidato socialista às presidenciais, disse que “é demasiado pouco”. “O aumento do salário mínimo através das cotizações sociais quer dizer que será a Segurança Social que o vai financiar, não os ricos nem os grandes acionistas das empresas”, explicou.
Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda não alinhada e também candidato às últimas presidenciais, criticou Emmanuel Macron, dizendo: “ele julga que ao distribuir umas moedas vai acalmar a insurreição que rebentou … os que estão nesse movimento vão responder-lhe”.
No campo sindical, a confederação CGT, próxima dos comunistas, apela a uma mobilização conjunta já na próxima sexta-feira com os “coletes amarelos”. Philippe Martinez, secretário geral da central sindical disse que as medidas “são insuficientes”.
Quanto ao Governo, reagiu pela voz do duro ministro do Interior, Christophe Castaner, que afirmou: “a violência tem de terminar e a calma deve voltar ao país” depois da comunicação do Presidente da República.