A « caravana da liberdade » convergiu hoje em Paris, bloqueando grande parte dos acessos à capital, com franceses a virem um pouco de todos os pontos do território para protestarem contras medidas anti-covid e pedir de volta a sua liberdade.
« Eu venho há sete meses manifestar-me para defender a liberdade e os direitos do Homem, porque esses direitos dizem que somos livres e iguais e já não o caso. Hoje somos livres sob a condição de termos recebido uma injeção com produtos experimentais », disse Justine, jovem francesa, em declarações à Agência Lusa.
Justine veio dos arredores de Paris, mas esta tarde, junto ao Museu do Louvre onde começou uma das manifestações da chamada « caravana da liberdade », semelhante aos movimentos que paralisaram várias cidades no Canadá, encontraram-se franceses um pouco de todo o país que se opõem à vacinação e a outras medidas de luta contra a pandemia.
« Gostava que a mobilização fosse como no Canadá, mas acho que as pessoas estão instaladas na sua realidade. Não veem o problema com as vacinas. Acho que as restrições devem acabar e se deve apostar num verdadeira tratamento e não ser obrigado a tomar uma vacina experimental », afirmou Amory, vindo de Amiens, na região de Somme.
O caminho para Amory foi « longo » para chegar até Paris, mas sem distúrbios, segundo relatou. As autoridades francesas instalaram vários controlos policiais em todas as vias de acesso à capital de forma a garantir que Paris não fica completamente isolada.
Já na capital, durante esta tarde, quando o cortejo chegou perto dos Campos Elísios, houve conflitos entre a polícia e os manifestantes, com cerca de 44 pessoas a serem detidas pelas autoridades e com as forças de segurança a lançarem granadas de gás lacrimogéneo para dispersar quem protestava.
« Os grandes protestos estão a organizar-se, mas é complicado porque a polícia na região parisiense é muito dura. Já vimos bem o que aconteceu com os coletes amarelos, portanto protestar causa medo em muita gente. Esperamos que a polícia se junte a nós », explicou Justine.
Para esta francesa, os anúncios do alívio das medidas contra a covid-19, especialmente o fim da máscara no interior de espaços fechados é apenas uma jogada política que antecede as eleições presidenciais de 2022.
« O discurso avança em função das condições. Agora o Governo vê que há uma grande oposição, portanto pensam em recuar já que o povo não está contente. Como muitos, tenho medo que isto seja temporário por causa das eleições e que depois das eleições voltem as grandes restrições », detalhou.
Para quem veio a este protesto, os potenciais candidatos que representam a sua perspetiva de gestão da crise são Florian Philippot, antigo número dois de Marine Le Pen, e Nicolas Dupont-Aignan, que chegou a unir forças com Le Pen nas últimas eleições.
« Ao menos, essas pessoas têm princípios e eles amam a França, já Emmanuel Macron vemos bem que não gosta do nosso país. Outros candidatos, como Jean-Luc Melenchon, por quem votei em 2017, são uns vira-casacas », considerou Justine.
Tendo escolhido não se vacinar, Amory gostava que a sua vida, limitada desde a entrada em vigor do passe vacinal no ano passado, voltasse ao normal.
« Não vou ao ginásio, não vou à piscina, não vou ao restaurante, diminuí as minhas interações sociais. Gostava de voltar à minha vida de antes e tenho medo de que me imponham mais restrições », lamentou.
Entre as pessoas detidas pela polícia está Jerôme Rodrigues, o colete amarelo de origem portuguesa que perdeu um olho em janeiro de 2019. Cerca de 300 pessoas foram identificadas pela polícia, numa operação que envolveu 7.200 agentes em toda a cidade.
Com Agência Lusa.