“Não morremos porque não calhou”. 7 portugueses repatriados de Moçambique chegaram a Lisboa

“Não morremos porque não calhou”. Portugueses que pediram para ser repatriados chegaram a Lisboa na madrugada desta segunda-feira.

Fotos/ ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Alfa/com Lusa e outras fontes

Maria Lopes, um dos sete repatriados que regressaram esta segunda-feira a Portugal, vindos de Moçambique, referiu que « ninguém estava à espera » das consequências do ciclone Idai, que provocaram até agora a morte de 446 pessoas no país.

« Não dá para contar. Árvores inteiras a cair em cima dos telhados. Mas árvores centenárias, não é uma árvore qualquer. Não é dessas pequeninas que nós vemos. São árvores centenárias, árvores que partem logo uma casa, se for preciso », relatou Maria Lopes, acrescentando que, na cidade da Beira, « ninguém estava à espera disto ».

À saída do avião fretado pelo Governo português para trazer sete cidadãos nacionais emigrados em Moçambique, e que aterrou na base militar de Figo Maduro, em Lisboa, por volta da 1h00, Maria Lopes ouviu umas breves palavras de conforto do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

« Vocês não imaginam o vento que foi », disse a portuguesa sobre o ciclone, depois de abandonar o Boeing 767-300ER da EuroAtlantic que saíra de Moçambique às 13h00 (11h00 em Portugal).

Natural de Lamego, mas com grande parte da vida vivida em Almada, Maria Lopes partilhou a sua experiência com a passagem do Idai por Moçambique, onde estava há cinco anos.

« Começou a chover. Depois, durante a noite, até à meia-noite, [foi] muito agressivo e parecia que aquilo ia abrandar, mas depois, até perto das quatro da manhã não dá. O vento virou ao contrário, era só levantar tudo, telhados, tudo », contou.

A passagem do Idai, que inundou uma área de cerca de 1.300 quilómetros quadrados, só em Moçambique, levou a que a habitação de Maria Lopes ficasse sem água e luz.

« Nós não morremos porque não calhou », referiu aquela que é uma das 2,8 milhões de pessoas afetadas pelo ciclone que atingiu Moçambique, Maláui e Zimbabué e cujo mais recente balanço diz ter causado a morte de pelo menos 761 pessoas.

Maria Lopes conta que ficou « sem nada », e que, por isso, a solução passou por regressar a Portugal. « A solução foi virmos embora para aqui, para o nosso país. Ficámos sem nada », disse. Maria Lopes regressou hoje, com o seu marido, doente, e com o seu neto, de 15 anos.

« O marido está doente. Fomos lá (…) ao médico e fizeram um relatório que ele tinha de voltar à terra natal e, uma vez que o Governo abriu esta porta, nós aproveitamos », explicou a portuguesa. Para trás ficaram um filho, uma nora e « uma netinha ».

« Eles estão lá ainda porque ele casou com uma moçambicana e, então, se depois as coisas não estiverem a correr bem, depois irão para outro sítio, para casa da sogra, para o Nampula [província no norte de Moçambique que não foi afetada pelo ciclone Idai] », explicou.

Maria Lopes elogiou e agradeceu o trabalho do consulado português na região, que diz ter feito tudo o que podia. Agora, sublinha, quer « recuperar do trauma », confiante de que « tudo vai passar ».

No hangar para onde foi levada numa carrinha que transportava as suas malas e as dos seus marido e neto, Maria Lopes tinha familiares à sua espera.

« Tínhamos muitas saudades, mas o que interessa é que eles estão bem », disse, emocionada, um familiar depois de abraçar os repatriados.

Além de terem sido recebidos pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, os sete portugueses repatriados – cinco homens, uma mulher e um jovem de 15 anos – foram acompanhados por várias equipas do Instituto Nacional de Emergência Médica de Portugal (INEM) e da Segurança Social.

O número de pessoas afetadas em Moçambique pelo ciclone Idai subiu para 531 mil e há 109 mil entradas em centros de acolhimento, das quais 6.500 dizem respeito a pessoas vulneráveis – por exemplo, idosos e grávidas que recebem assistência particular.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que está a preparar-se para enfrentar prováveis surtos de cólera e outras doenças infecciosas, bem como de sarampo, em extensas zonas do sudeste de África afetadas pelo ciclone Idai, em particular em Moçambique.

A cidade da Beira, no centro litoral de Moçambique, foi uma das mais afetadas pelo ciclone, na noite de 14 de março.

Nesta segunda-feira de manhã, ainda havia 12 portugueses na Beira que o consulado não conseguia contactar.

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