Uma das obras mais relevantes da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, « L’Incendie 1 », foi leiloada pelo valor recorde de 2,290 milhões de euros, em Londres, na terça-feira à noite.
L’Incendie (O Incêndio), de 1944, foi a leilão na Christie’s, com uma estimativa de base entre 1,100 milhões e 1,500 milhões de libras (1,230 milhões e 1,676 milhões de euros), no âmbito de um conjunto de obras de Arte Contemporânea e do Pós Guerra.
De acordo com a Christie’s, a tela esteve presente em algumas das principais exposições da artista na Europa e América do Sul, incluindo numa grande retrospetiva na Fundação Calouste Gulbenkian, em 1970, em Lisboa, e foi adquirida pelo vendedor – uma coleção privada de arte, não identificada – aos herdeiros de Jorge de Brito, em 2008.
A pintura, datada do penúltimo ano da II Guerra Mundial, alude a uma cidade que está em chamas, representada por traços sinuosos a vermelho, azul, laranja, amarelo e branco, deixando pouco espaço ao céu escuro pelo fumo.
Ao observar-se de perto, a composição aparentemente abstrata revela rostos e figuras entre as chamas, alguns dos quais envergando capacetes.
Refletindo referências do cubismo, construtivismo e futurismo, a obra de Vieira da Silva remete também para El Greco e Hieronymus Bosch, e mostra a angústia perante a guerra.
O quadro foi realizado durante o exílio da pintora no Rio de Janeiro, onde morou com o marido, o pintor de origem húngara Arpad Szenes, entre 1940 e 1947, antes de regressar a Paris.
Comprado pelo colecionador português Jorge de Brito à galeria parisiense Furstenberg, o quadro L’Incendie 1 teve o seu ponto de partida na Galerie Pierre, da capital francesa, onde foi adquirido pela colecionadora Simone Collinet.
Antes da retrospetiva na Gulbenkian, a pintura esteve exposta em Hannover, Wuppertal e Bremen, na Alemanha, em 1958, e em Grenoble, em França, e em Turim, em Itália, em 1964.
Em 2012-2013, quando foi assinalado o ano de Portugal no Brasil, L’Incendie 1 foi uma das 51 obras da pintora, expostas no Museu de Arte do Rio de Janeiro, na mostra Vieira da Silva, Agora, organizada pela Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva (FASVS), de Lisboa.
A mostra, que se estendeu até fevereiro de 2013 e que mobilizou mais de 43 mil visitantes, em pouco menos de dois meses, incluía obras provenientes do Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva, assim como de coleções privadas e institucionais, como as de Roberto Marinho, Jorge de Brito, Ilídio Pinho, do Governo do Estado de São Paulo, do Metropolitano de Lisboa, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Millenium BCP, entre outras.
A exposição Vieira da Silva, Agora – sem as obras detidas por colecionadores brasileiros – esteve também patente em Lisboa, de março a junho de 2013, no Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva, dedicado à preservação da obra da artista e do marido.
Nascida em Lisboa, em 1908, Vieira da Silva mudou-se para a capital francesa quando tinha dezenove anos, para poder estudar durante uma época de grande atividade artística, tendo acabado por se instalar na cidade, onde morreu em 1992.
No total, o leilão realizado na terça-feira à noite, em Londres, rendeu 137,460 milhões de libras (153,680 milhões de euros), com destaque para Six Self Portraits (Seis Auto Retratos), de Andy Warhol, arrematado pelo recorde de 25,291 mihões de euros.
Alfa/DN