O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que visitará a Alemanha entre quarta e sexta-feira, vai encontrar uma comunidade portuguesa “muito diversa” e “mais consolidada”, admite Alfredo Stoffel, conselheiro das comunidades. Mas quem emigrou para a Alemanha não tem só coisas boas a dizer e Marcelo vai encontrar críticas, principalmente no que toca aos tempos de espera nos consulados e às falhas no ensino da língua portuguesa.
É a segunda visita de Marcelo Rebelo de Sousa à Alemanha, enquanto chefe de Estado, e, tal como em 2016, terá novamente um encontro com a comunidade portuguesa. Mas, de acordo com Alfredo Stoffel, não há « grandes diferenças » nos últimos três anos.
« Vem menos gente para a Alemanha e temos uma comunidade mais consolidada. Quem veio, e procurou sítio para trabalhar, conseguiu-o. Este é um país que, embora tendo algum desemprego, tem falta de mão de obra, sobretudo qualificada. O mercado de trabalho está apto a receber pessoas bem formadas, quadros médios e superiores e, para quem procura isso, a Alemanha continua a ser um país atrativo », revelou o conselheiro das comunidades portugueses, em declarações à agência Lusa.
A emigração portuguesa para a Alemanha registou, este ano, o valor mais baixo desde 2011. Segundo o Observatório da Emigração, 7200 portugueses fixaram-se na Alemanha, em 2018, um valor que confirma a tendência de decréscimo dos últimos anos.
« Temos uma comunidade muito diversa e que varia consoante as regiões. Em Berlim, por exemplo, estão os novos emigrantes. Há também uma comunidade ‘mais clássica’, na segunda e terceira geração, que se adaptou à região onde vive, e com filhos que já são luso-alemães. É uma comunidade muito variada e enquadrada na sociedade », destaca Alfredo Stoffel.
Marcelo Rebelo de Sousa vai estar na Alemanha nos dias 7, 8 e 9 de agosto, a convite do homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier. Entre outros pontos da agenda, está uma receção à comunidade portuguesa na residência do embaixador de Portugal na Alemanha, João Mira Gomes, durante a qual Alfredo Stoffel espera poder abordar alguns temas.
« Penso que o Estado português tem de dar atenção à situação dos reformados e dos que se querem reformar, temos de ter uma boa justiça fiscal, perceber porque é que existem ainda casos de dupla tributação (…), valorizar ainda mais o português como língua estrangeira e também como língua curricular nas escolas alemãs », sustenta.
Alfredo Stoffel mostra-se satisfeito com o trabalho que tem sido levado a cabo pelo Governo português em relação às comunidades portuguesas no estrangeiro, sublinhando a importância de o valorizar e de o tentar melhorar quando não corre tão bem.
« Acho que este Governo olhou para as comunidades com olhos de ver, apesar de sabermos que não podem fazer tudo. Além disso há uma boa sintonia entre o Presidente da República e o primeiro-ministro », sublinhou.
« É importante ver os que saem como uma mais-valia para Portugal. Nós, apesar de não estarmos no país, trabalhamos e fazemos muito por Portugal, não somos piores nem melhores que os que decidiram ficar, e que sofrem na pele problemas como o desemprego ou os baixos ordenados. A comunidade é algo vivo, um prolongamento do país », defendeu Alfredo Stoffel.
Marcelo Rebelo de Sousa vai deslocar-se a Berlim e a Rostock, na sua segunda visita à Alemanha, entre 7 e 9 de agosto. Segundo a Presidência da República, esta deslocação pretende « consolidar as relações bilaterais entre Portugal e a Alemanha, dando continuidade ao nível de excelência que caracteriza o relacionamento entre os dois países em todas as dimensões. »
COMUNIDADE QUER REFORÇO NO ENSINO DO PORTUGUÊS
Representantes da comunidade portuguesa na Alemanha vão pedir quarta-feira ao Presidente da República que Portugal reforce a aposta no ensino da língua portuguesa e no associativismo, visando manter a ligação dos lusodescentes ao país de origem.
« Apostar e desenvolver mais o ensino da língua materna para manter a ligação dos nossos jovens a Portugal » e « dar mais valor e apoio ao associativismo para manter e divulgar a cultura portuguesa na Alemanha » são as duas mensagens que Vítor Estradas, presidente de um dos ranchos folclóricos portugueses mais conhecidos da Alemanha, tem para transmitir ao Presidente da República.
Contactado pela Lusa, o ex-presidente da Federação das Associações Portuguesas na Alemanha (FAPA), que deixou de existir por falta de novos corpos diretivos, lamentou que nos últimos anos « muitos problemas tenham sido apresentados e discutidos, muito tenha sido prometido, mas pouco tenha sido cumprido ».
« Devíamos falar menos e agir mais (…) muitas vezes só se lembram da comunidade quando existe um interesse próprio. Acho bastante lamentável », comenta, sublinhando a necessidade de existir « uma maior participação na vida política, pois quem não vota, não conta », considerou.
« Como comunidade, não podemos estar sempre a protestar contra o Governo, o Presidente da República e os políticos quando não os votamos. Esse incentivo para votar tem de vir também de Portugal, tal como a distância até aos locais de voto deveria ser encurtada », defendeu por seu lado o presidente da Casa de Portugal em Bremerhaven, Daniel de Oliveira Soares.
O responsável elogiou o Presidente da República, afirmando que « muitas coisas têm mudado » desde que é chefe de Estado, « muitas para melhor », como por exemplo haver mais « permanências consulares ».
Contudo, defendeu a diminuição dos tempos de espera nos atendimentos telefónicos e presenciais no consulado ou a realização de conferências direcionadas às comunidades.
A Associação de Pós-Graduados Portugueses na Alemanha (ASPPA) também estará representada no encontro entre a comunidade portuguesa e o Presidente da República, marcado para quarta-feira, com a expetativa de transmitir ao chefe do Estado português a necessidade de o país fortalecer « as suas redes na diáspora científica ».
« Isto permitirá a criação de sinergias entre os dois países, não só na indústria, como também na academia, e permitirá um fluxo mais dinâmico de conhecimento e informação, podendo voltar a atrair portugueses na Alemanha de volta a Portugal », considerou a presidente da ASPPA, Sofia Figueiredo, destacando que aquele país continua a ser « um destino profissional atrativo para os portugueses ».
« Considero que as políticas que o Governo dinamiza em relação à diáspora, como por exemplo, o congresso mundial de redes da diáspora portuguesa, que teve lugar em julho, no Porto, de extrema importância para conhecer a comunidade emigrante, as suas forças e onde precisa de apoio », declarou.