Prémio Camões 2021. Paulina Chiziane dedica distinção às mulheres

Paulina Chiziane dedica Prémio Camões 2021 às mulheres

 

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O Prémio Camões 2021 serve para valorizar o papel das mulheres numa altura em que o seu trabalho ainda é subvalorizado, disse ontem à Lusa a escritora moçambicana Paulina Chiziane, depois de receber a distinção.

« Afinal a mulher tem uma alma grande e tem uma grande mensagem para dar ao mundo. Este prémio serve para despertar as mulheres e fazê-las sentir o poder que têm por dentro », referiu a autora.

Chiziane foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, com « Balada de amor ao vento », em 1990.

« Quando eu comecei a escrever, ninguém acreditava naquilo que eu fazia. Porque eram escritos de mulher », referiu, numa alusão à temática do género, um dos fios condutores da sua obra.

Paulina Chiziane, 66 anos, confessou-se confusa com a notícia do prémio.

« Eu nem sequer me lembrava que o prémio Camões existia », porque os confinamentos provocados pela covid-19 deixaram-na « bem fechada em casa, desligada de tudo ».

O prémio surgiu como uma surpresa bem-vinda.

« Uma surpresa muito boa para mim, para o meu povo, para a minha gente », que em África escreve « o português, aprendido de Portugal ».

« E eu sempre achei que o meu português não merecia tão alto patamar. Estou emocionada », acrescentou.

O seu último trabalho foi « A voz do cárcere » escrito em conjunto com Dionísio Bahule, lançado este ano, em Maputo, depois de ambos entrarem nas prisões e ouvirem os reclusos – ela a escutar as mulheres, ele, os homens.

« Há tantas ideias », disse à Lusa sobre o futuro, ideias que « nem sempre o corpo consegue realizar ».

Mas pode ser que « este prémio seja um motor para eu me sentir um pouco mais de pé, porque às vezes fico cansada », seja pela idade, referiu, ou pelo impacto « da covid, que impede tudo », disse, numa alusão à pandemia.

Paulina Chiziane disse que o Prémio Camões pode ser « um alento novo », um símbolo que de que a sua caminhada « valeu a pena » e de que « é preciso continuar a lutar ».

A escolha da escritora moçambicana foi feita por unanimidade pelo júri do Prémio Camões 2021, anunciou hoje a ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca.

A decisão destaca a « vasta produção e receção crítica, bem como o reconhecimento académico e institucional » da obra, segundo nota que anunciou a distinção.

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