Nos últimos 30 dias, Portugal registou 13 grandes incêndios, quase tantos como em todo o ano de 2018, quando foram registados 15. No total, arderam neste período 14.087 hectares, mais do que em Espanha, França, Itália e Grécia juntos. Portugal com mais “grandes fogos” num mês do que toda a Europa mediterrânica
Alfa/Expresso
O maior incêndio deste ano em toda a Europa foi o que a 20 de julho queimou 9924 hectares entre Mação e Vila de Rei. Considerado um “grande fogo” – são assim qualificados os incêndios em que ardem mais de 100 hectares – foi um dos 13 fogos desta categoria registados em Portugal no último mês, de 5 de julho a 5 de agosto.
O último destes “grandes fogos” ocorreu este domingo, em Martinchel, no Médio Tejo, onde arderam 384 hectares. Só em agosto já se registaram mais dois destes incêndios: na Bendada, na Beira Interior, onde arderam 259 hectares; e em Marvão, no Alentejo, que responde por 775 hectares de área ardida.
MAIOR PROBLEMA É COMBATE ESTAR “MUITO PRESO À ÁGUA”
A presença de Portugal nesta estatística “é sistemática”, constata Paulo Fernandes, diretor do Laboratório de Fogos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que a justifica com “uma combinação de vegetação, topografia e clima”. Mas a presença de “muita biomassa em regiões com uma orografia difícil e sujeitas ainda a secura e ventos fortes” não explica tudo. “Os fogos em Portugal têm maior área ardida porque o país tem um elevado número de ignições, o que obriga a uma maior dispersão de meios que impede combates robustecidos”, diz o especialista.
A agravar o problema está também “a técnica usada no combate, muito presa à água, com fogos que reclamam mais maquinaria e materiais sapadores”.
Paulo Fernandes dá o exemplo da Catalunha em que o maior fogo do ano, a 27 de junho, consumiu seis mil e 500 hectares de floresta em quatro dias. Porém, em Portugal, “o fogo de Vila de Rei e Mação consumiu 9924 hectares em apenas 3 dias”.
A diferença foi “um maior uso de maquinaria, com buldozeres e táticas de contrafogo que permitam extinguir o incêndio, com condições mais violentas e mais rápido, em menos tempo”. Há ainda um outro fator a explicar a estatística. “A consolidação do perímetro, que precisa de ser melhorada. Em Vila de Rei e Monchique, este ano e no ano passado, a consolidação da extinção foi feita de forma frágil, o que permitiu inúmeras reativações, que continuaram a projetar o incêndio e a prolongar a área ardida”.