« Voz de Portugal cá dentro e lá fora junto das comunidades portuguesas ». PR/Carlos do Carmo

PR Marcelo Rebelo de Sousa recorda Carlos do Carmo como “grande figura da cultura” e “grande homem”. Governo decreta dia de luto nacional na segunda-feira.

PR recorda Carlos do Carmo como “grande figura da cultura” e “grande homem”

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O Presidente da República reagiu hoje com um sentimento “de perda” à notícia da morte do fadista Carlos do Carmo, que recordou como “uma grande figura da cultura” e também como “um grande homem”.

Em declarações à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa disse ter recebido esta notícia com uma reação idêntica “à de todos os portugueses”, “uma reação de perda”.

“Perda por aquilo que Carlos do Carmo fez pela consagração do fado como património imaterial da Humanidade, mas também pelo que deu como voz de Portugal cá dentro e lá fora junto das comunidades portuguesas, prestigiando não apenas o fado, mas a nossa cultura”, destacou.

O chefe de Estado realçou ainda que Carlos do Carmo foi “uma voz” na luta pela liberdade nos tempos da ditadura e na transição para a democracia.

“Por detrás de uma grande figura da cultura estava um grande homem, com uma grande riqueza pessoal, uma sensibilidade e uma intuição e identificação com o povo português que o povo português não esquece”, acrescentou.

O Presidente da República considerou que a morte de Carlos do Carmo, no primeiro dia de 2021, “um dia que devia ser de esperança”, não pode ser encarada “com desesperança”, mas como uma homenagem a alguém que “nunca perdia a esperança”.

O fadista Carlos do Carmo morreu hoje de manhã aos 81 anos no hospital de Santa Maria, em Lisboa, disse o filho Alfredo do Carmo à Lusa.

À RTP, Marcelo Rebelo de Sousa recordou uma “aproximação familiar muito grande” entre a sua mãe e a de Carlos do Carmo, antes do 25 de Abril.

“Os grandes momentos familiares eram passados normalmente perto para ouvirmos a sua mãe e a ele muito novo a cantar e ficou aí uma ligação que se renovava periodicamente”, contou.

O chefe de Estado destacou que, sendo “obviamente um homem de esquerda” e “sempre mais identificado com o povo do que com os poderosos”, o fadista relacionava-se de uma forma “muito próxima com as pessoas, de todos os quadrantes”.

“Era uma pessoa que, na intimidade, nunca perdia o otimismo nem a esperança de viver, mesmo quando muito doente. (…) Essa capacidade de enriquecer a vida dos outros com o seu otimismo, esperança, amizade, lealdade, traduzia-se quando cantava”, disse, evocando o seu último espetáculo em 2019 como “uma prova de resistência física”.

“Gostava de ser amado, amar as pessoas e de se dar às pessoas. Gostava de perceber que os portugueses o amavam”, resumiu o Presidente da República, apontando que Carlos do Carmo “gostava de promover os mais novos e chegava ao ponto de se apagar para fazer crescer os outros”.

Numa nota publicada no portal da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa evoca Carlos do Carmo como “uma das grandes figuras do fado e da dignidade do fado”.

“Dignidade do texto, da qualidade do texto, da dicção, do dizer. Dignidade de uma vocação exigente, sem cedências e vedetismos. Dignidade de uma atenção humana, de uma compaixão, uma empatia de ‘homem na cidade’ ao lado dos outros homens e mulheres”, aponta.

O Presidente recorda o percurso biográfico do fadista e o “reconhecimento público e crítico logo no primeiro disco que gravou, nas décadas de 1960 e 1970”.

“No Festival da Canção de 1976 foi o único intérprete de todas as canções concorrentes, e no ano seguinte editou aquele que é o mais conhecido dos seus discos com Ary dos Santos, ‘Um Homem na Cidade’. Com Ary, manteve colaboração fiel e produtiva, que deu origem a fados que nos parecem hoje imemoriais, como ‘Lisboa, Menina e Moça’”, acrescenta.

O chefe de Estado considera que Carlos do Carmo “contribuiu muito para a divulgação internacional do fado”, nomeadamente com a participação no filme “Fado” (pelo qual ganhou um prémio Goya), com a campanha pelo reconhecimento do fado como Património Imaterial da Humanidade, e com o Grammy Latino de Carreira que lhe foi concedido em 2014.

“Homem do rigor e da generosidade, dedicou-se nos últimos anos a gravar discos e a cantar ao vivo com outros músicos, do jazz e de fora do jazz. A sua relação com o público, de afeto e respeito mútuos, foi notória até ao fim, no concerto do Coliseu dos Recreios em 2019, onde pude uma última vez aplaudi-lo e congratulá-lo, depois de já o ter feito oficialmente, em 2016, com a atribuição do grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito”, acrescenta.

“À sua família, e em particular à tão amada companheira de uma vida, Maria Judite, apresento os meus sentimentos de pesar, saudade e gratidão”, refere ainda a nota.

Nascido em Lisboa, em 21 de dezembro de 1939, Carlos do Carmo era filho da fadista Lucília do Carmo (1919-1998) e do livreiro Alfredo Almeida, proprietários da casa de fados O Faia, onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística em 1964.

Vencedor do Grammy Latino de Carreira, que recebeu em 2014, o seu percurso passou pelos principais palcos mundiais, do Olympia, em Paris, à Ópera de Frankfurt, do ‘Canecão’, no Rio de Janeiro, ao Royal Albert Hall, em Londres.

Despediu-se dos palcos no passado dia 09 de novembro de 2019, com um concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

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