Foto de abertura: ANDREY BORODULIN, Sic-Notícias
“Integridade física da central” de Zaporijia ocupada “foi violada”.
“Não vamos a lugar nenhum. A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) agora está lá, está na central, não está a movimentar-se. Vai lá ficar”, garantiu Rafael Grossi, o chefe da missão dos inspetores nucleares que chegou na quinta-feira à Ucrânia
Alfa/ com Lusa e outras fontes (adaptação Alfa)
A “integridade física da central” nuclear ucraniana de Zaporijia, ocupada pelas tropas russas, “foi violada”, declarou ontem o diretor da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, depois de uma missão inspecionar as instalações.
“A integridade física da central foi violada várias vezes”, declarou Grossi à imprensa ao regressar ao território controlado por Kiev com uma parte da missão da AIEA.
“Não temos elementos para fazer uma avaliação, [mas] é uma coisa que não pode continuar a acontecer”, acrescentou.
Vários membros da missão vão lá ficar até “domingo ou segunda-feira” para estudar profundamente o estado da central, a maior da Europa e cujas instalações foram bombardeadas diversas vezes, fazendo temer uma catástrofe nuclear, precisou Grossi.
“Vamos ter aqui muito trabalho para analisar determinados aspetos técnicos”, observou.
A AIEA tenciona também “manter uma presença permanente” na central além dessa data, sublinhou o responsável, sem fornecer mais pormenores.
Depois de ter chegado à central vindo da cidade de Zaporijia, a cerca de 120 quilómetros por estrada, Grossi disse ter visto “muitas coisas” durante as “quatro ou cinco horas” que passou no local.
“Conseguimos visitar a totalidade das instalações. Estive nas unidades [dos reatores], vi o sistema de emergência e outras áreas, as salas de controlo”, enumerou, elogiando os trabalhadores ucranianos que continuam a trabalhar na central desde a sua ocupação, em março, pelo exército russo.
“É claro que eles estão numa situação difícil, mas têm um grau de profissionalismo incrível”, afirmou Grossi.
Descreveu, em seguida, a “situação bastante difícil” da sua equipa que ouviu fogo de artilharia pesada durante a viagem até à central e ao atravessar a linha da frente.
“Houve momentos em que eram evidentes os disparos de metralhadoras, artilharia pesada, morteiros duas ou três vezes – estávamos muito preocupados”, admitiu o diretor da AIEA.
Há várias semanas que Moscovo e Kiev se acusam mutuamente de atacar a central nuclear.
Um dos dois reatores ativos foi desligado devido a bombardeamentos que os ucranianos atribuem às forças russas, ao passo que a Rússia acusa a Ucrânia de ter enviado equipas para sabotarem a maquinaria da central localizada ao longo do rio Dnieper, cuja margem esquerda é controlada neste setor por tropas russas.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções.
Até agora, a ONU apresentou como confirmados 5.663 civis mortos e 8.055 feridos na guerra, que hoje entrou no seu 190.º dia, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.