Apenas pela segunda vez desde o início da epidemia global, um paciente foi curado da infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), na origem da sida.
A notícia, avançada pelo « The New York Times » à primeira hora desta terça-feira, chega quase 12 anos depois de um primeiro doente ter sido curado do vírus, um feito que há muito a comunidade científica tentava replicar.
O sucesso confirma que a cura para o VIH é possível, apesar de difícil, disseram os investigadores, que estão a descrever o caso como uma remissão a longo prazo.
Ao jornal norte-americano, através de um e-mail, o doente, identificado apenas como « o paciente de Londres », disse sentir-se « responsável por ajudar os médicos a entender como é que a cura aconteceu, para que possam desenvolver a ciência ». « Nunca pensei que haveria uma cura para a sida enquanto eu fosse vivo », acrescentou.
Diagnosticado com o VIH em 2003, começou a tomar medicação para controlar a infeção em 2012, ano em desenvolveu linfoma de Hodgkin. Em 2016, concordou em ser submetido a um transplante de células estaminais para tratar o cancro.
Os médicos assistentes conseguiram encontrar um doador com a mutação genética que confere resistência natural ao VIH. Cerca de 1% dos descendentes de pessoas do Norte da Europa herdaram a mutação dos dois pais e são imunes à maioria do VIH.
Foi um « evento improvável », afirmou o investigador principal Ravindra Gupta da University College de Londres. « É por isso que isto não tem sido observado com mais frequência ».
O transplante mudou o sistema imunitário do « paciente de Londres », que voluntariamente deixou de tomar a medicação contra o VIH, para ver se o vírus reaparecia.
Habitualmente, os doentes com VIH têm de tomar medicação diária para controlar o vírus, que ressurge, normalmente em duas ou três semanas, quando essa medicação é suspensa.
O « paciente de Londres » está há 18 meses sem tomar medicação e sem vestígios do VIH.
Em ambos os casos – neste mais recente e no de há 12 anos -, as curas resultaram de transplantes de medula óssea que eram destinados, não a tratar as infeções em causa, mas a tratar cancro diagnosticado nos pacientes.
Mas, salvaguarda o « The New York Times », é improvável que o transplante de medula óssea – arriscado e com efeitos severos que podem durar anos – seja uma opção de tratamento realista num futuro próximo, em que vão estar disponíveis medicamentos poderosos para controlar o VIH.
Alfa/JN