A cantora portuguesa Linda de Suza morreu aos 74 anos, quarta-feira, 28 de dezembro, às 10h10. A cantora tinha sido transferida para o hospital de Gisors (Eure, Normandie) « por insuficiência respiratória » e deu « positivo para Covid-19 ».
Em declarações à televisão francesa, o agente e tutor da cantora, Fabien Lecoeuvre, recordou a sua grande popularidade na Europa, nomeadamente nos países onde existem comunidades de emigrantes portugueses, e louvou a sua personalidade forte, lembrando que Linda de Suza “atravessou a fronteira com o filho pela mão” e “dizia o que pensava”.
Rainha das canções ligeiras
Rainha das canções ligeiras, Teolinda Joaquina de Sousa Lança, vendeu milhões de discos, principalmente em França. Nascida a 22 de fevereiro de 1948 em Beringel (Alentejo, Portugal) teve de fugir da sua « família tirânica » no país muito conservador de Salazar, onde mães solteiras, como ela, não eram toleradas.
« Em poucos meses, passei de aspirador de empregada a microfone de cantora »
Em 1972, com apenas 24 anos, Linda de Suza chegou ilegalmente à França com seu filho de quatro anos, cognominado Jeannot. Aprende francês, cria o filho sozinha e multiplica os pequenos empregos. A noite, ela canta no café-restaurante « Chez Louisette », perto do mercado « des puces de Saint-Ouen ». Um boca a boca intenso começa então e ela é contratada para cantar em casamentos. Foi descoberta pelo compositor André Pascal (1932-2001). « Em poucos meses, passei de aspirador de empregada a microfone de cantora« , dizia a artista.
Uma carreira fulgurante
A cantora assinara contrato com a discográfica Carrère e lança o seu primeiro êxito, em 1978, cantando então a dor da emigração, a saudade e a alegria de voltar para à terra: Um português. A etapa seguinte foi a apresentação da cantora na televisão, no programa Rendez-Vous du Dimanche de Michel Drucker. Linda de Suza interpretou a canção Un Portugais, cujas vendas do single atingiram o Disco de Platina, em França, em 1979.
Muito popular em França de 1978 a 1984, Linda de Suza tinha descrito a história da sua vida, nomeadamente a travessia clandestina da fronteira francesa apenas com uma “mala de cartão” no livro « La Valise de carton ». Lançado em 1984, dois milhões de exemplares foram vendidos até hoje.
Linda de Suza tinha esgotado a mítica sala parisiense do Olympia quinze vezes entre 1983 e 1984. As suas últimas aparições no palco datam de 2015 a 2017 com o espetáculo « Age tendre ». Em 2020, apresentou um novo projeto, « Postais de Portugal », com qual preparava uma nova digressão que a pandemia de COVID-19 obrigou, infelizmente, a cancelar.
Linda de Suza tornou-se a cantora e porta-voz da comunidade emigrante portuguesa, cantando as suas dificuldades e as saudades do país distante.
A cantora passou por vários contratempos pessoais
A cantora passou por vários contratempos pessoais, que tiveram eco na imprensa. Em 2010, tornou públicas as suas dificuldades financeiras e acusou o companheiro de lhe roubar a identidade. Naquela época, salientou que vivia com cerca de 400 euros mensais.
Linda de Suza foi, em vida, espoliada em muitos milhões de francos e, em Agosto e Setembro de 1997, estava sozinha em guerra contra forças desmedidas – dois grandes bancos, um produtor famoso, o homem com quem tinha vivido 12 anos, e contra um governo que ela então suspeitava de conluio com a baixeza de todos os que se tinham aproveitado da ingenuidade da artista que protagonizou em França, a partir do fim dos anos 70, o conto de fadas mais rendoso da história do «show business» francês. Linda de Suza tinha argumentos sólidos para acusar diversas pessoas de a terem roubado durante cerca de 20 anos, mas a Justiça nunca andou para à frente com este caso.
Há algumas semanas, Maria Antónia Lança, irmã da artista, tinha falado em exclusivo à Rádio Alfa (com Didier Caramalho) do estado de saúde da Linda de Suza. Numa entrevista comovente, Maria Antónia Lança relembrou que a irmã estava « num estado de demência », com apenas « 39 kilos de peso e Alzheimer ». O agente artístico, Fabien Lecoeuvre, desmentiu numa entrevista exclusiva à Rádio Alfa.
L’Etrangère, Linda de Suza, 1982:
Presidente Emmanuel Macron recorda Linda de Suza
O Presidente Emmanuel Macron considera que Linda de Suza foi « uma rainha dos anos 80 » em França e, pelo modo como cantou a história da imigração portuguesa, tornou-se num « ícone dos destinos cruzados » entre franceses e portugueses.
Num comunicado emitido na noite de quarta-feira 28 de dezembro pelo Palácio do Eliseu, Emmanuel Macron e Brigitte Macron, exprimiram as condolências à família, amigos e admiradores de Linda de Suza, lembrando a cantora portuguesa que exultou as ligações entre França e Portugal.
»No cruzamento de duas culturas, de duas línguas, traduzindo em português os seus maiores sucessos em francês, ela afirmou-se como um ícone dos destinos cruzados dos nossos dois povos », pode ler-se no comunicado enviado pelo chefe de Estado francês.
« La chanteuse Linda de Suza est décédée ce mercredi à 74 ans. Au fil de ses deux millions de disques, elle magnifia par la musique ce destin franco-portugais qui était le sien, et dans lequel beaucoup pouvaient se reconnaitre.
Celle qui fut célébrée comme une reine des années 80 commença son existence très loin des ors du spectacle, dans une région rurale du Portugal de Salazar, au sein d’une famille de huit enfants où les ressources manquaient. Aussi dut-elle quitter l’école à onze ans, pour travailler comme femme de ménage puis comme ouvrière. À 24 ans, fuyant la chape étouffante d’une famille qui acceptait mal qu’elle ait eu un enfant sans être mariée, elle préféra gagner Paris avec son fils, sans parler un mot de français. Elle l’apprit en quelques mois grâce aux romans-photos du magazine Nous-Deux, et pratiqua tous les petits métiers pour élever son enfant.
Son courage devait trouver une récompense inespérée. Chez Louisette, la guinguette des puces de Saint-Ouen où elle travaillait comme serveuse, elle fredonnait des airs de Dalida entre deux services. Son timbre de velours fut bientôt remarqué. Soudain les horizons s’élargirent : par bouche à oreille, elle attira l’attention de Claude Carrère, qui lui fit signer un contrat. À trente ans, sur le plateau de Michel Drucker, elle remplaça en dernière minute Claude François qui venait de mourir. Ce fut un triomphe, qui la propulsa dans la cour des grands. Didier Barbelivien, Pascal Auriat ou Charles Aznavour se mirent à écrire pour elle des chansons, Jean-Claude Petit les harmonisa. Son autobiographie inspira une comédie musicale, puis une série. Elle-même peina à en croire ses yeux quand elle vit trôner son nom en lettres écarlates à l’affiche de l’Olympia, où elle chanta quinze jours de suite à guichet fermé.
Le secret de sa fulgurante ascension, sans doute, tenait à son authenticité. De son expérience intime du déracinement, elle tirait des mélodies qui touchaient les cœurs, teintées des accents de ce fado traditionnel auquel elle empruntait sa nostalgie poignante. Si « Dans ma valise en carton » fut l’un des titres les plus écoutés de son répertoire, c’est aussi qu’elle le chantait avec tout son être, elle qui avait franchi clandestinement les Pyrénées avec son petit garçon de quatre ans et son unique bagage. « L’Étrangère », c’était un peu elle encore, la fille qui « pleurait, en passant la frontière, ses illusions perdues et sa patrie qu’elle a laissée derrière. » Son public lui vouait un attachement profond que les années ne purent entamer, même quand elle s’éloigna de la scène, avant de revenir sous les projecteurs grâce aux tournées d’« Âge tendre et tête de bois ».
Au carrefour de deux cultures, de deux langues, traduisant en portugais ses plus grands succès français, elle s’affirma comme une icône des destins croisés de nos deux peuples, et parraina le Portugal lors de son entrée dans l’Union européenne en 1986.
Le Président de la République et son épouse saluent cette chanteuse de talent qui bâtit des ponts entre le pays où elle avait commencé sa vie et celui où elle l’acheva, en cette Normandie qui lui était chère. Ils adressent à son fils, à ses proches et à tous ceux qu’émurent ses chansons, au Portugal comme en France, leurs condoléances sincères. »
« Avant de partir, ma mère m’a dit : Jeannot, n’éteins pas le feu » – João Lança