Há mais 11 mulheres a acusar Plácido Domingo de assédio sexual

São agora 20 as mulheres que acusam o tenor de assédio sexual. Plácido Domingo já reagiu e diz que novas histórias estão “cheias de inconsistências” e são “simplesmente incorrectas”.

 

O número de mulheres que acusam o cantor lírico Plácido Domingo de assédio sexual aumentou, depois de a agência noticiosa Associated Press (AP) ter publicado, nesta quinta-feira, o relato de 11 novas mulheres sobre o alegado comportamento abusivo do tenor.

No mês passado, a agência noticiosa norte-americana já tinha divulgado nove relatos de assédio sexual perpetrados por um dos cantores de ópera mais conhecidos do mundo, ao longo dos últimos 30 anos. O cantor lírico terá pressionado várias mulheres a manterem relações sexuais com ele a troco de trabalho; quando recusavam, este prejudicava-as profissionalmente.

A esses relatos juntam-se agora os de mais 11 mulheres, que se cruzaram com Plácido Domingo em produções nos EUA. A maioria falou sob anonimato, porque ainda estão no mundo da música clássica e temem represálias, à excepção de Angela Turner Wilson, cantora e professora de canto em Dallas, no Texas. Todas elas decidiram contar as suas histórias depois da primeira publicação da AP – que também levou a Ópera de Los Angeles a procurar “aconselhamento externo” para investigar os relatos das nove mulheres ouvidas por aquela agência noticiosa.

O cantor já respondeu às novas acusações, através de um comunicado divulgado pela sua porta-voz. “A campanha continuada da AP para denegrir Plácido Domingo não só está errada como é imoral. Estas novas acusações estão cheias de inconsistências, como nas primeiras notícias, e são, em muitos sentidos, simplesmente incorrectas”, disse Nancy Seltzer em nome do tenor. “Devido à investigação em curso, não vamos comentar em pormenor, mas rejeitamos energicamente a imagem enganosa que a AP está a tentar dar do senhor Domingo.”

 

“Não foi gentil. Agarrou-me com força”

Angela Turner Wilson trabalhou com Domingo na Ópera de Washington durante a produção de Le Cid, na temporada de 1999-2000. À época, Plácido Domingo era o director artístico da instituição. “Sabia que este seria o início de coisas muito boas para mim”, disse Wilson à AP.

Numa noite, antes de um dos espectáculos, Wilson terá ficado sozinha com Domingo no camarim, enquanto se maquilhavam. De acordo com o relato da cantora, Domingo ter-se-á levantado da cadeira, colocado por trás dela, posto as mãos nos ombros, tirado as alças do soutien e agarrado o peito. “Doeu”, disse à AP. “Não foi gentil. Agarrou-me com força.” O tenor terá abandonado o camarim a seguir, deixando-a a sentir-se “humilhada”.

Nesse ano, Wilson ganhou o prémio Artista do Ano da companhia pela temporada de 2000. No entanto, nunca mais foi contratada pela Ópera de Washington, algo que atribui a este episódio com Domingo. “Qualquer pessoa que ganhe o ‘cantor do ano’ naquela ou em qualquer companhia, ganha um bilhete para uma boa relação com a companhia”, afirmou. “É um sinal de que se fez um bom trabalho e se merece voltar. Não costuma ser um adeus.”

Avaliando a reacção de Domingo à primeira notícia – o tenor disse que “as regras e os standards” actuais “são muito diferentes dos do passado” –, Wilson discorda peremptoriamente: “Que mulher quereria que ele a agarrasse no peito?” “Depois ainda tive de ir para o palco e agir como se estivesse apaixonada por ele.”

À semelhança do que que aconteceu antes, e na ausência de provas físicas que comprovassem as histórias (à excepção das entradas no diário de Wilson), a AP fez um esforço por confirmar todas as histórias junto de responsáveis que tivessem alguma vez trabalhado com o tenor. E conseguiu confirmar o padrão de comportamento por parte de Domingo e a “tradição oral de aconselhar mulheres” a evitarem o tenor, como resumiu uma pessoa contactada na primeira história.

 

Uma “regra implícita” confirmada agora por Melinda McLain, coordenadora de produção da Ópera de Los Angeles, durante a temporada de 1986-1987. À AP disse que fazia questão de não deixar Domingo sozinho nos camarins com jovens cantoras e apenas lhe apresentava assistentes homens. “Criávamos esquemas elaborados para o afastar de dadas cantoras”, disse McLain. “Nunca lhe mandei nenhuma mulher ao camarim.”

Outra estratégia para refrear o comportamento do tenor espanhol era convidar a sua mulher, Marta, para os eventos da companhia “porque, se a Marta estivesse por perto, ele comportava-se”.

 

Jornal Público.

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