O Presidente dos EUA, Donald Trump, disse que o seu encontro histórico com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, foi “melhor do que alguém poderia imaginar”. Kim, por sua vez, referiu que “decidiram deixar o passado para trás” e que “o mundo vai ver grandes mudanças”. Falando há minutos aos jornalistas, Trump acrescentou ainda que estavam ambos “muito orgulhosos do que aconteceu hoje” e que “a relação com a Coreia do Norte será uma situação muito diferente do que era no passado”.
Os dois dirigentes encontraram-se esta terça-feira num hotel de Singapura para tentar pôr fim a uma hostilidade com sete décadas e à ameaça do confronto nuclear entre os dois países, tendo assinado o tão aguardado acordo que tantas incógnitas continua a levantar, sobretudo quanto ao seu conteúdo.
Pouco depois das nove da manhã locais (duas da madrugada em Lisboa), aconteceu História. Com sorrisos a denunciar algum nervosismo e num momento que parecia muito bem encenado, Kim e Trump encontraram-se no Capella Hotel, apertaram as mãos e deixaram-se fotografar. O Presidente norte-americano foi o primeiro a chegar ao hotel de Sentosa, popular ilha turística que fica ao largo do porto de Singapura e cujo nome significa “tranquilidade” em malaio.
KIM: “PRAZER EM CONHECÊ-LO, PRESIDENTE”. TRUMP: “TEREMOS UMA RELAÇÃO MAGNÍFICA”
“Prazer em conhecê-lo, senhor Presidente”, disse Kim a Trump. Foram as primeiras palavras registadas depois do aperto de mão. Depois, sentaram-se um ao lado do outro com as bandeiras de ambos os países em pano de fundo. Trump respondeu com o tradicional polegar levantado. E disse: “Sinto-me muito bem. Vamos ter uma ótima conversa e seremos tremendamente bem-sucedidos. É uma honra para mim e nós teremos uma relação magnífica. Não tenho dúvidas disso”. “Não foi fácil chegar até aqui. Houve obstáculos mas ultrapassámo-los para aqui estarmos”, retorquiu Kim.
Pouco tempo depois, acompanhados apenas pelos respetivos intérpretes, os dois velhos rivais seguiram para a tão aguardada reunião privada. O encontro durou cerca de 40 minutos, após o que a reunião foi alargada para incluir dirigentes políticos de ambas as partes. Seguiu-se um almoço de trabalho, que incluiu costeletas, porco agridoce e um prato típico coreano como ementa principal, segundo o cardápio divulgado pela Casa Branca.
Depois do repasto, tanto Kim como Trump abandonam Singapura. O líder norte-coreano deverá regressar a casa ainda na tarde desta terça-feira, enquanto o Presidente norte-americano deverá partir à noite, um dia antes do que estava inicialmente previsto. A Casa Branca revelou que a viagem de regresso foi antecipada porque as conversações com Pyongyang estavam a decorrer “mais rapidamente do que se imaginava”.
O QUE PODERÁ DIZER O ACORDO ASSINADO?
Dias antes do histórico aperto de mão desta terça-feira entre o Presidente dos EUA e o líder da Coreia do Norte, em Singapura, houve trabalho de bastidores para afinar a linguagem a usar num comunicado conjunto no final da cimeira. Entre os responsáveis reunidos para negociar os termos da declaração pontificava Sung Kim, um diplomata americano, nascido na Coreia do Sul, e que é atualmente o embaixador dos EUA nas Filipinas. Simbolicamente, o experimentado negociador e um pequeno grupo de diplomatas reuniram-se em Panmunjom, a aldeia da trégua de abril último entre as duas Coreias.
No caso de resultar forte, vinculativo e detalhado, o texto servirá de roteiro para negociações futuras entre as partes. De acordo com uma fonte ligada ao processo, o comunicado conjunto deverá ter três secções: uma relativa à desnuclearização da península coreana, outra com as garantias de segurança à Coreia do Norte e, por fim, uma terceira que elencará os passos que ambos os países deverão dar.
“O ARRANQUE DE UM PROCESSO MOROSO E ARRISCADO”
Mesmo que o encontro seja bem-sucedido, será, segundo o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo, apenas o arranque de um processo moroso e arriscado. Um passo bastante significativo, ainda assim, se considerarmos que há apenas alguns meses Kim e Trump trocavam insultos e ameaças e comparavam a dimensão dos respetivos arsenais nucleares.
No ano passado, o líder norte-coreano anunciava que Pyongyang havia conduzido os mais poderosos testes nucleares e desenvolvido mísseis capazes de atingir cidades americanas. Em resposta, o Presidente dos EUA ameaçava soltar “fogo e fúria como o mundo nunca tinha visto”, não lhe restando “outra opção senão destruir totalmente a Coreia do Norte”. Não destruiu. E esta terça-feira pode muito bem ter sido o início de uma bela amizade entre Kim e Trump.